Folha de S. Paulo


Encerramento da Feira de Frankfurt mantém tom político que dominou o evento

O encerramento da participação brasileira na Feira do Livro de Frankfurt fez jus ao tom político que dominou todo o evento.

O escritor Paulo Lins, que representou o país, começou sua fala mandando "saravá" aos professores do Rio e mencionou o abaixo-assinado em apoio à greve da categoria, que foi assinado por 48 escritores presentes na feira.

O autor de "Cidade de Deus" também elogiou o colega Luiz Ruffato pelo discurso da abertura, que qualificou como "declaração de amor ao Brasil", e disse que deixaria "sem comentários a fala do nosso vice-presidente" (Michel Temer, que também falou na abertura). "A poesia é coisa séria e não se dá com qualquer um", comentou, em referência à produção poética de Temer.

"Sabemos que o Brasil é um país racista, como a maioria dos países da Europa", comentou Lins, "mas afirmo que não houve racismo na lista de escritores convidados".

O evento de conclusão da Feira do Livro marcaria o encerramento da participação brasileira e o início da celebração do país convidado de 2014. E a autora Rosa Liksom, que representava a Finlândia, próxima homenageada, não tirou o pé do acelerador.

"É interessante receber uma homenagem na Alemanha. Nasci na região da Lapônia, e lá havia mais alemães do que finlandeses, porque a Alemanha havia invadido minha terra", disse a escritora e artista plástica. "Hoje estamos marchando lado a lado na União Europeia", alfinetou.

Depois das breves falas dos autores dos países homenageados, o diretor da feira, Juergen Böos, chamou os chefes das delegações do Brasil e da Finlândia para a "passagem de bastão".

Há, de fato, um bastão, uma peça cilíndrica de madeira e vidro dentro da qual são colocados um texto escolhido pelo país que conclui sua participação e outro do próximo homenageado.

O Brasil optou por uma colagem de frases de 16 escritores, de Machado de Assis e Olavo Bilac a Bernardo Carvalho e Milton Hatoum.

Renato Lessa, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, entregou o objeto à representante finlandesa, fazendo também uma nota de pé de página político.

"A apresentação do Brasil mostrou aqui a variedade e o grau de liberdade que o povo brasileiro atingiu. Isso é importante para a minha geração, que arriscou a vida para que essa liberdade fosse conquistada", disse Lessa.

Mas Frankfurt 2013, a política, terminou em tom mais doce. No concerto pocket que encerrou o evento, o pianista e saxofonista finlandês Jimi Tenor tocou música cuja letra dizia apenas "O único Deus é o amor".


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