Folha de S. Paulo


Corpo da atriz Norma Bengell é cremado no Rio

Foi cremado na tarde desta quinta-feira (10/10), no Rio, o corpo da atriz e cineasta Norma Bengell.

Ela morreu na madrugada de quarta (9), aos 78 anos, seis meses depois da descoberta de um câncer de pulmão.

Artistas e ministra Marta lamentam morte de Norma Bengell

O velório do corpo da atriz, iniciado na noite de quarta, foi realizado em uma capela do cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul carioca.

Por lá passaram vários artistas e diretores para se despedirem de Norma Bengell.

MUSA DO CINEMA BRASILEIRO

Considerada "a mulher mais desejada do Brasil" nos anos 1960, nas palavras do ator Jece Valadão (1930-2006), Bengell atuou em clássicos como "Os Cafajestes" (1961), onde fez o primeiro nu frontal do cinema nacional, e "O Pagador de Promessas" (1962).

Foi também cantora bissexta, atuou em teatro e telenovelas, foi perseguida e exilada durante a ditadura militar e viu sua carreira ficar manchada pelas irregularidades no uso de dinheiro público em "O Guarani" (1996), que ela produziu e dirigiu.

Filha única de um imigrante alemão que trabalhava como afinador de pianos e de uma moça de família rica que foi deserdada após o casamento, Norma nasceu no Rio, em 1935, e passou a infância em Copacabana.

Aos 10 anos, seus pais separaram-se e ela foi viver com os avós paternos. Adolescente rebelde, foi expulsa de um internato de freiras alemãs e abandonou os estudos pouco depois.

Começou a trabalhar no início dos anos 1950, primeiro como modelo e, depois, como vedete do teatro de revista, onde também desenvolveu seu lado de cantora.

O convite para fazer cinema veio aos 23 anos, quando contracenou com Oscarito na chanchada "O Homem do Sputnik" (1959), de Carlos Manga, fazendo uma paródia de Brigitte Bardot.

No mesmo ano, lançaria seu primeiro LP, "OOOOOOh! Norma", com canções como "Fever" (sucesso na voz de Peggy Lee) e "Eu Sei que Vou te Amar" (Tom Jobim). O álbum chamou atenção por sua capa, com uma foto em que Norma parecia estar nua.

Dois anos depois, sua nudez explícita no longa "Os Cafajestes", de Ruy Guerra, causaria escândalo, tornando-a alvo de críticas violentas da Igreja Católica e de organizações como a Tradição, Família e Propriedade (TFP).

"Eu tinha uma consciência política, o que representava aquele meu passo de tirar a roupa, de ser apedrejada pela TFP", disse a atriz em entrevista ao programa "Roda Viva", em 1988.

Feminista declarada, defendeu a pílula anticoncepcional e a legalização do aborto (anos depois, afirmaria ter feito 16 abortos).

Sua atuação no premiado "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte (1920-2009), rendeu convites para atuar em produções italianas e francesas, como "Mafioso" (1962), de Alberto Lattuada, e "La Constanza della Ragione" (1964), de Pasquale Festa Campanile.

De volta ao Brasil, atuou em "Noite Vazia" (1964), de Walter Hugo Khoury, e, durante as filmagens, se casou no estúdio da Vera Cruz com o ator Gabriele Tinti, em altar improvisado pelo diretor.

Em 1968, ano em que encenou a peça "Cordélia Brasil", de Antônio Bivar, em São Paulo, foi sequestrada no Teatro de Arena e levada ao Rio por três homens do 1º Batalhão Policial do Exército.

Lá, foi interrogada por cinco horas sobre "a subversão na classe teatral". Seria a primeira de várias detenções pelo regime militar, que a levaram a se exilar na França em 1971.

Quatro décadas depois, foi reconhecida pelo governo brasileiro como anistiada política e teve direito a uma indenização de R$ 254,5 mil, além de um pagamento mensal de R$ 2.734.

Sua atuação política durante a ditadura renderia ainda uma polêmica involuntária em 2010, quando a então candidata a presidente Dilma Rousseff colocou, entre fotos de sua trajetória pessoal, uma imagem de Bengell durante a Passeata dos Cem Mil.

O episódio foi tratado como uma tentativa de induzir os eleitores ao erro, devido à semelhança física entre ambas. "Acho normal. Não tem nada que pedir desculpas. Aliás, eu gosto da Dilma. Acho que ela é maravilhosa, uma mulher que sofreu muito", disse a atriz à Folha.


Endereço da página:

Links no texto: