Folha de S. Paulo


Análise: Mestre Didi trabalhava relação entre a cultura popular e a erudita

Mestre Didi foi um dos principais artistas brasileiros a trabalhar a relação entre a cultura popular e a erudita.

Supremo sacerdote do culto à terra na religião nagô, Descoredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi, deixou uma vasta obra literária, mas sua presença na cena contemporânea se deve a produção de esculturas, em geral compostas por uma trama complexa de búzios, couro e nervuras de palmas enfeitadas.

Morre aos 95 o 'sacerdote-artista' Mestre Didi, criador de linguagem com raízes africanas

Por transitar entre o artesanato, o folclórico e a produção contemporânea, Mestre Didi demorou a ter sua obra reconhecida no país. O prestígio, de fato, teve início apenas em 1989, quando ele foi um dos três brasileiros a participar da histórica mostra "Magiciens de la Terre" (mágicos da Terra), no Centro Pompidou, em Paris, organizada por Jean-Hubert Martin., que contou com cem artistas. Os outros brasileiros foram Cildo Meireles e Ronaldo Rêgo. A exposição foi um marco na abertura de exposições para culturas fora do eixo Europa-Estados Unidos e por apontar como arte contemporânea obras de difícil classificação, como é o caso da producão de Mestre Didi.

No Brasil, foi somente na 23ª Bienal de São Paulo, em 1996, que o artista ganhou uma sala especial e o merecido destaque no país. Mesmo assim, Mestre Didi exibiu pouco. Em São Paulo, quando realizou uma de suas últimas exposições, em 2009, ele foi visto no Museu Afro Brasil, que apresentou uma retrospectiva com cerca de 50 obras, o que faz todo sentido. Afinal, sua obra é também depositária das tradições da cultura das religiões africanas.

Mestre Didi não costumava dar entrevistas, quem falava por ele era sua mulher, Juana Elbein dos Santos, que conheceu em 1965. Antropóloga, ele ajudou a dar a correta leitura à produção do marido, que segundo ela reúne "a profundidade mística, a tradição e a contemporaneidade da existencial criatividade do sacerdote-artista".


Endereço da página:

Links no texto: