Folha de S. Paulo


Antonio Fagundes e filho retomam dupla nos palcos com a peça 'Tribos'

Antonio Fagundes e seu filho de 24 anos, Bruno, que em 2012 e no início deste ano atuaram juntos na peça "Vermelho", decidiram repetir a parceria. Estreou no último dia 15, no Tuca, a peça "Tribos", drama familiar escrito pela inglesa Nina Raine.

Se em "Vermelho" era o pai quem assumia a figura do protagonista, interpretando o pintor Mark Rothko, agora chegou a vez do herdeiro, que até o ano passado era um ator desconhecido. Em "Tribos", ele faz um jovem surdo criado em uma família judia.

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Há a chance, dizem os dois, de que a parceria resulte na formação de uma companhia. "A minha escola é ele", diz Bruno, não só sobre a atuação do pai, mas também sobre os modos de produção.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Os atores Bruno (esq.) e seu pai, Antonio Fagundes, durante ensaio de 'Tribos', no Tuca
Os atores Bruno (esq.) e seu pai, Antonio Fagundes, durante ensaio de 'Tribos', no Tuca

"Tribos" estreou sem patrocínio, uma aposta de que a bilheteria pode gerar receita e também um posicionamento político contra o atual formato das leis de incentivo, diz Antonio, que também está na novela "Amor à Vida".

Aos 64 anos (57 de carreira), ele conta que chegou a inscrever o projeto da peça em programas de incentivo à cultura via isenção fiscal, como o Proac, do Estado, e a Rouanet, do Ministério da Cultura. Embora autorizados a captar o total de R$ 1,8 milhão, os atores resolveram investir dinheiro do próprio bolso no projeto de "Tribos".

"Cansamos dessa passagem de pires", afirma Antonio. Eles acreditam que, com isso, conquistaram mais liberdade de expressão.

"Existe hoje uma censura pior do que no tempo da ditadura", diz o pai.

"Depois de submeter o trabalho à aprovação do Ministério da Cultura, você tem de levá-lo a um gerente de marketing [de uma empresa]", explica Fagundes.

"Por uma deformação profissional, esse gerente não está ligado ao teatro. Se ele apoiar alguma coisa que não venda seus produtos, estará arriscando o emprego. Nós nos libertamos disso."

TRIBOS DE SURDOS

A nova investida partiu de Bruno, que assistiu a uma montagem do texto em Nova York. Pai e filho chamaram Ulysses Cruz, antigo parceiro de Antonio, para dirigi-los.

A peça traz a Bruno uma prova. Seu personagem é surdo e, no transcorrer da história, aprende a usar a língua gestual. "Tive medo de fazer o personagem. Em Nova York, era um ator surdo que interpretava o papel", conta.

Ele tomou aulas para aprender a se comunicar com as mãos e conviveu com deficientes auditivos. "Se um surdo vier assistir à peça, ele vai olhar para mim e entender o que eu estou dizendo."

O principal conflito da trama é que Billy, o protagonista, nasceu surdo em uma família em que todos ouvem perfeitamente. Ele se adaptou a conviver com seus parentes, mas não foi estimulado a estudar a língua de sinais.

Sua trajetória toma novo rumo quando ele conhece uma moça, filha de pais surdos e com domínio dos gestos, que está perdendo a audição gradualmente.

Com o novo relacionamento, um mundo se abre para o personagem, e Billy acaba articulando seus afetos também entre quem, como ele, não pode ouvir.

A obra procura desvendar justamente a formação de elos entre pessoas de um mesmo grupo.

"Dentro da turma dos deficientes auditivos, descobre-se, existem diversos grupos: os que são mais radicais, os que são menos", diz Antonio, explicando o título.

Apesar das diferenças, o elenco está alinhado em ao menos um ponto: o figurino é assinado pelo estilista Alexandre Herchcovitch.


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