Folha de S. Paulo


Acertos do Rock in Rio fariam programação estelar e os fiascos, escalação do inferno

É praticamente impossível acompanhar sete dias de shows e não sair discutindo com os amigos quais foram os melhores e os piores no palco. Isso fica mais tentador ainda no caso de um festival grande como o Rock in Rio.

A quinta edição, encerrada ontem, manteve o estilo esquizofrênico na escalação, indo do axé pop de Ivete Sangalo ao encontro heavy metal de Destruction com Krisiun, que é algo como a trilha sonora do inferno.

Num exercício de imaginar os destaques positivos e negativos do festival, a ideia é escalar em cada horário da programação (quatro shows no palco Sunset e outros quatro no Mundo) um dia de sonho e um dia de pesadelo.

Editoria de Arte/Folhapress

Algumas escolhas beiram a unanimidade. Beyoncé e Metallica, por exemplo, fizeram shows principais de lavar a alma da plateia lotada. Mas Bruce Springsteen, mesmo com o público reduzido a menos da metade depois que os fãs jovens de John Mayer foram embora, protagonizou um show histórico.

Lenda viva do rock, ele trouxe ao público brasileiro um novo patamar de performance de estrela roqueira. Mostrou uma entrega total no palco, cada vez mais rara no circuito de shows.

A escolha de Justin Timberlake como o pior show principal não pode ser entendida como um fiasco do cantor americano. Ele até foi bem, mas desfilou suas músicas sem um momento arrebatador. Perdeu para shows mais "conservadores", como os de Bon Jovi ou Metallica, que entregaram tudo o que o público desejava.

ENCONTROS

Mesmo com níveis diferentes de qualidade musical, os encontros do palco Sunset foram interessantes ao resgatar ícones da MPB. O toque de protesto dado à homenagem a Raul Seixas pelo vocalista Tico Santa Cruz, dos Detonautas, escreveu uma boa página do festival.

Muito mais exuberante na questão musical, Pepeu Gomes e Moraes Moreira empolgaram muito com o material de sua banda seminal dos anos 1970, os Novos Baianos, com a presença luminosa de Roberta Sá recriando o vocal original de Baby do Brasil.

Problemas técnicos jogaram alguns shows potencialmente bons na seleção dos piores. Caso de Ivo Meirelles comandando integrantes da bateria da Mangueira e dos punks do Offspring, sabotados pelo som ruim.

Escolhas infelizes também enterram performances. Desde o primeiro dia do evento, a versão constrangedora que Ivete Sangalo fez para "Love of My Life", do Queen, despontava como a grande lambança de 2013.

Mas, no último sábado, o americano e desconhecido Phillip Phillips conseguiu superá-la com a versão mais sem graça possível de "Thriller", de Michael Jackson. Enquanto Ivete teve momentos bons fazendo o axé que sabe fazer, o resto do show do jovem foi tão ruim quanto o ataque cruel ao mito Jacko.

Acima de tudo, a escalação de Phillips para o gigantesco palco Mundo se consolidou como maior equívoco do festival. Em "honroso" segundo lugar, a banda brasileira Kiara Rocks, inexplicável no palco principal.


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