Folha de S. Paulo


Revezando hits com baladas açucaradas, Bon Jovi é perfeito para a geração Instagram

Bon Jovi encerrou a noite desta sexta-feira (20) do Rock In Rio desfalcado de dois integrantes originais, o guitarrista Richie Sambora, demitido no meio da tour, e o baterista Tico Torres, recém-operado para a retirada do apêndice. Mas, pela empolgação dos fãs, mesmo se colocassem três orangotangos acompanhando o vocalista Jon Bon Jovi, o resultado seria o mesmo.

Não é difícil de entender. Jon Bon Jovi é uma espécie de Britney Spears do hard rock: faz uso do sex appeal para disfarçar letras vergonhosas ("Não há razão para me salvar, baby/Há demônios no céu e anjos no inferno/Então, me jogue um beijo e me deseje bem", primeiras frases de "That's What the Water Made Me", que abriu o show) e possui um repertório consistente de hits, como "You Give Love a Bad Name", o primeiro a levantar o público no Palco Mundo, principal do evento.

Assim como a cantora de "...Baby One More Time", Bon Jovi usa um figurino extravagante que vai do casaco imitando o uniforme do Capitão América a camiseta regata preta do fim --isso sem contar o bronzeado artificial que mais lembrava o Naranjito, saudoso mascote da Copa do Mundo de 1982, uma laranja, claro.

Mas Bon Jovi tem uma grande vantagem. Ele serve com perfeição para a geração Instagram. Entre um hit e outro, as baladas mela-cueca que só fãs conhecem servem para o público normal tirar as costumeiras fotos com o palco ao fundo e fazendo pose de rapper perigoso. Ou seja, uma experiência que poderia ser criticada pelos vários momentos de tédio vira uma fascinante exploração do ego nas redes sociais, vide o momento em que fã Rosana Guedes, 40, sobe ao palco para tascar um beijo no cantor, 51.

A balada era "Who Says you Can't Go Home", mas quem se importa com a música? Lá estava ela tirando uma foto para postar no Twitter e com o cartaz lembrando que ela já havia tido a mesma experiência em 1995, quando acompanhou a banda por oito shows.

O que ficou claro na apresentação do Bon Jovi neste Rock In Rio é que uma reinvenção é necessária, assim como o vocalista fez ao dar uma pausa na banda nos anos 1990 para fazer músicas para "Jovens Demais Para Morrer" ou quando cortou a vasta cabeleira e passou a dedicar-se ao cinema, atuando em filmes como "U-571 - A Batalha do Atlântico" (2000) e "Paixões Alucinantes" (1997). A fórmula de sucessos ocasionais com músicas desconhecidas pouco empolgantes já saiu do prazo de validade.

Sim, o final é divertido como "Wanted Dead or Alive" e "Livin' on a Prayer" (dedicada ao baterista enfermo, substituído por Rich Scannella) no bis. Mas o público pediu e a banda voltou tocando a balada adocicada "Always", que não estava no set list. Afinal, no Bon Jovi, o freguês é quem manda. E como ele mesmo lembrou (ou ameaçou): "Brasil, nos veremos novamente."


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