Folha de S. Paulo


Iron Maiden fecha hoje última noite do Rock in Rio; leia entrevista com Steve Harris

O Iron Maiden fecha o Rock in Rio neste domingo (22), no palco Mundo, na terceira apresentação da banda no festival.

Em 1985, na primeira edição do evento, os britânicos fizeram sua primeira aparição no Brasil.

Em entrevista à Folha por telefone, o baixista, fundador e líder do Iron Maiden, Steve Harris, 57, disse que o festival teve uma importância vital em sua carreira.

"Na primeira vez que nos apresentamos no Rock in Rio, em 1985, nós demos suporte para a apresentação do Queen e aquele êxito foi extraordinário para nós. Em 2001, quando tocamos pela segunda vez, gravamos aquela noite em DVD e até hoje as pessoas lembram-se daquele vídeo", declarou.

Em 2013, os britânicos revisitam a turnê do álbum "Seventh Son of a Seventh Son", de 1988, que teve seu ápice no registro em vídeo intitulado "Maiden England". O repertório tem músicas pouco apresentadas pela banda nos últimos anos, como "Moonchild", "Seventh Son of a Seventh Son", "The Clairvoyant" e "The Prisoner".

"Alguns fãs mais novos nunca viram músicas daquela fase ao vivo e aproveitamos para atualizar o repertório para que todos saiam satisfeitos do show. Tem sido fenomenal ver a reação das pessoas durante os shows", explica Harris.

O baixista não descartou o lançamento de um próximo trabalho de inéditas para os próximos anos, mas não prometeu datas, pois afirma que o Iron Maiden não planeja seus futuros discos com antecedência.

Questionado sobre com qual banda gostaria de fazer uma turnê, Harris disse ter vontade de tocar com os ingleses do Jethro Tull, banda da qual é fã declarado. "Provavelmente eu ficaria mais assistindo eles no palco do que tocando", brinca.

*

Folha - Vocês vão se apresentar no Rock in Rio pela terceira vez. Qual a importância do festival para o Iron Maiden?
Steve Harris - O festival sempre teve uma importância vital em nossa carreira, sem dúvida nenhuma. Na primeira vez que nos apresentamos no Rock in Rio, em 1985, nós demos suporte para a apresentação do Queen e aquele êxito foi extraordinário para nós. Em 2001, quando tocamos pela segunda vez, gravamos aquela noite em DVD e até hoje as pessoas lembram-se daquele vídeo. O mais legal de tudo é ver que muita gente do país inteiro vai para nos assistir, e a visão que tenho do palco, de uma multidão de pessoas, é incrível. O show será televisionado, todo mundo ficará de olho no que vamos tocar ou fazer ao vivo. Com certeza é um evento muito importante para o Iron Maiden.

O repertório terá algo de diferente ou será o que vocês vêm tocando nesta turnê?
Se compararmos com as últimas apresentações no festival, sim, sem dúvida [que haverá diferenças]. Da última vez que tocamos no Rock in Rio, estávamos divulgando o disco "Brave New World" (2001), então focamos no trabalho inédito da época, mas desta vez é diferente. A turnê atual volta para o ano de 1988, do álbum "Seventh Son of a Seventh Son", que era o tema daquela turnê, inclusive relançamos o vídeo "Maiden England", que foi gravado em Birmingham, na Inglaterra, especialmente para estes shows atuais.
Alguns fãs mais novos nunca viram músicas daquela fase ao vivo e aproveitamos para atualizar o repertório para que todos saiam satisfeitos do show. Tem sido fenomenal ver a reação das pessoas durante os shows.

Além do Rock in Rio, vocês vão tocar em São Paulo e Curitiba, com público de mais de 30 mil pessoas por noite. Em sua opinião, por qual a razão existe esta simbiose tão grande entre o Brasil e o Iron Maiden?
Realmente, não sei explicar isso. Os fãs brasileiros têm uma paixão tremenda pelo Iron Maiden e só tenho a agradecer pelo apoio de sempre. Admiro o país não só pelas pessoas que gostam da banda, mas também pelo futebol brasileiro, de que gosto demais. As cidades são maravilhosas, assim como o seu futebol. Só tenho elogios e agradecimentos a fazer aos brasileiros.

Pretende assistir à Copa do Mundo no Brasil?
Infelizmente, não terei como assistir pessoalmente, mas é claro que vou ver na televisão a maioria dos jogos. Não sei exatamente onde estarei na época do evento, mas, como fã de futebol, seria muito legal ver os jogos no Brasil. Preciso confirmar com meus empresários como será a minha agenda na época (risos).

Na época em que foi lançado, "Seventh Son of a Seventh Son" não foi muito bem entendido pelas pessoas, pois, além de conceitual, ele é mais progressivo que os trabalhos anteriores do Iron Maiden. Qual a sua opinião sobre o álbum hoje?
Exatamente. Como você explicou perfeitamente, "Seventh Son of a Seventh Son" sempre foi considerado um álbum com influências de rock progressivo. Acredito que na época em que ele saiu muitas pessoas não entenderam bem o significado do disco, outras apenas não gostaram do trabalho como um todo.
Desta vez, demos uma segunda chance ao álbum, e todos têm dado a resposta exata sobre ele. Independentemente disso, Europa e América do Sul foram os lugares que mais entenderam a proposta da banda e, por causa disso, somos gratos de alguma maneira.
Tocar novamente ao vivo músicas como "Seventh Son of a Seventh Son" e "The Clairvoyant", por exemplo, tem sido um desafio e uma satisfação enormes para a banda.

O Iron Maiden sempre usou em suas letras temas históricos e, ao mesmo tempo, fantasiosos. Qual destes tópicos você gosta de explorar mais?
Essa é uma boa pergunta. Quando vamos compor músicas para um novo álbum, por exemplo, normalmente não pensamos antes qual tema usar nas letras, pois apenas deixamos fluir naturalmente durante o processo. Eu gosto dos dois tópicos, da fantasia e de história, por causa disso não planejo nada anteriormente e prefiro esperar o momento certo para usar qualquer assunto. De fato, no Iron Maiden nós não planejamos nada antes deste processo, tudo tem de sair naturalmente.

Neste ano, o Iron Maiden perdeu seu primeiro baterista, Clive Burr, que morreu com 56 anos (ele havia sido diagnosticado com esclerose múltipla). Quais são suas melhores lembranças dele na banda?
Sim, infelizmente, foi muito triste esse dia. Estive no funeral de Clive Burr e foi um momento especial para mim, pois pude me despedir dele. A primeira coisa que vem à mente quando penso nele é a diversão, pois ele sempre foi uma pessoa engraçada e divertida. Ele sempre inventava uma piada o tempo todo. Ele tinha um talento excepcional como baterista, porém sua felicidade era ainda maior.

O álbum "Piece of Mind" (1983) completa trinta anos em 2013. O que você se lembra da sua primeira gravação com Nicko McBrain?
Quando Nicko McBrain entrou na banda, muitos fãs não gostaram muito, porque todos amavam o jeito de Clive Burr tocar, mas sabíamos da qualidade dele e, como músico, ele fez um excelente trabalho. As pessoas não gostam muito de qualquer tipo de mudança na banda, mas nós apenas temos que seguir em frente. Lembro que, quando gravamos "Piece of Mind", ficamos impressionados com a técnica de Nicko. Hoje em dia, temos fãs que gostam tanto dele como de Clive, e isso é importante.

Você tem contato com Blaze Bayley e Paul Di'Anno, ex-vocalistas da banda?
Na verdade, não tive muito contato com eles nos últimos anos. Não vou alongar muito esse assunto porque isso gera discussão e não sei o que o futuro reserva nesse sentido, mas quem sabe, no dia em que o Iron Maiden fizer seu show de despedida, talvez a gente improvise algo junto com eles. Realmente, não sei o que futuro nos aguarda.

Todos os músicos do Iron Maiden têm família, filhos, especialmente você, tem uma filha que canta e tem banda. Como é o relacionamento da família de cada um enquanto vocês estão em turnê?
Nossos filhos se dão bem, claro. Quando eles eram crianças, algumas vezes os levávamos em turnê conosco. Meus filhos, em especial, já são crescidos, adultos, então tem sido legal a convivência. Eles apenas aproveitam a vida, da maneira como eles são. Ver minha filha cantar, por exemplo, tem sido uma experiência muito boa.

No começo do Iron Maiden, você tinha influência de bandas como Jethro Tull, UFO, Rush, Deep Purple etc. Hoje em dia, como você vê, por exemplo, os garotos dizendo que são influenciados pela sua música?
Isso é fantástico. Quando comecei, era óbvio que iria seguir meus ídolos, e ter influências de alguém é sempre importante. Quando as pessoas dizem que foram influenciadas pela minha música eu realmente não sei o que dizer para agradecer, pois é uma sensação muito boa. Tudo isso é um complemento do que é ser músico de verdade.

E com qual banda você deseja tocar junto, mas ainda não teve a chance?
Certamente o Jethro Tull. Eu não sei se ainda vou ter a chance de fazer uma turnê com eles ou se eles vão querer sair em turnê conosco, mas seria fenomenal. Eu provavelmente iria assistir aos shows da plateia mesmo [risos].

Por fim, o Iron Maiden já tem algum plano para um novo álbum?
Sim, com certeza. Não posso falar muito a respeito, nem temos nada planejado, mas vamos gravar mais um álbum no futuro próximo. Não tenho datas, pode ser tanto ano que vem como em 2015, realmente não sei. Mas definitivamente iremos fazer algo de inédito nos próximos anos.

PROVÁVEL REPERTÓRIO DO SHOW DE HOJE:
"Moonchild"
"Can I Play with Madness"
"The Prisoner"
"2 Minutes to Midnight"
"Afraid to Shoot Strangers"
"The Trooper"
"The Number of the Beast"
"Phantom of the Opera"
"Run to the Hills"
"Wasted Years"
"Seventh Son of a Seventh Son"
"The Clairvoyant"
"Fear of the Dark"
"Iron Maiden"

BIS
"Aces High"
"The Evil that Men Do"
"Running Free"


Endereço da página:

Links no texto: