Sobre uma parede pintada de rosa, um quadro com a figura de um cavalo se destaca acima de cadeiras amarelas. Não há ninguém na foto.
Minúscula, uma placa com a palavra "recepção" dá a pista dos lugares retratados em "Belvedere", novo livro de Bob Wolfenson.
Durante a estada do fotógrafo numa estância em Caxambu, em Minas Gerais, ele percebeu que a atmosfera daqueles espaços lembrava as viagens que fazia com sua família, ainda criança, pelo interior paulista.
Bob Wolfenson/Divulgação | ||
Restaurante de hotel em Caxambu (MG), em foto de 2011 |
Mesmo sem reencontrar os mesmos lugares, Wolfenson se inspirou naquilo que ele define como "clima de baixa temporada".
"O trabalho não é jornalístico, nem é um roteiro. A fotografia é fragmento e, no meu caso, ficção construída a partir de elementos da realidade", diz o fotógrafo.
Embora a gênese do ensaio seja a reunião familiar, "["Belvedere"]";http://livraria.folha.com.br/catalogo/1206154/belvedere?tracking_number=1411 carrega nas imagens um sentimento de solidão.
Seja nas fotografias feitas na Croácia, em Cuba ou em Águas de Lindóia, a imensa maioria dos quadros retrata espaços vazios, onde os lugares são tomados pela estética com vocação involuntária pelo kitsch de vitrais espalhafatosos e pedalinhos em formato de cisnes. Ou como o próprio fotógrafo assume, com a alma presa à classe média.
"Ser classe média é ter reverência pelos ritos nos quais fui gerado e cresci. Não abandonar, em função da cultura, o gosto pelas coisas genuínas, não abraçar o 'bom gosto'", define.
A obra é uma quebra em relação a "Apreensões", de 2010, onde Wolfenson retratou a captura de armas, drogas, brinquedos e animais.
Os editoriais de moda e os nus femininos, pelos quais ficou conhecido, conferiu ao fotógrafo a versatilidade para atravessar diferentes temas com naturalidade. "Não seria este fotógrafo do 'Belvedere' se não fosse estes outros todos e vice-versa", conclui.
A mostra com imagens do livro fica em cartaz na galeria Millan até 28 de setembro.