Folha de S. Paulo


'Não perdoei por ele, mas por mim', diz em livro americana violentada por Polanski

Após 36 anos do episódio em que foi violentada pelo diretor de cinema franco-polonês Roman Polanski, quando tinha 13 anos, a americana Samantha Geimer, 50, lançou suas memórias na última terça-feira (17), nos EUA.

Para Samantha, é hora de "recuperar sua própria história" e "perdoar".

Em livro co-escrito com seu advogado, "The Girl: A Life in the Shadow of Roman Polanski" ("A Garota: Uma Vida À Sombra de Roman Polanski", em tradução livre), Geimer conta em detalhes da tarde de 10 de março de 1977, quando Polanski a fez posar para fotos, deu-lhe champanhe para beber e deixou-a descansando antes de ter relações sexuais não consentidas com ela durante uma festa na casa do ator Jack Nicholson.

Sob a influência do álcool e das drogas, impressionada pela fama e pela diferença de idade, ela diz que não lutou contra, que deixou o cineasta dominá-la. "Por que lutar?", escreveu. "Faria qualquer coisa para que aquilo acabasse."

Samantha conta seu medo, as lágrimas mais tarde no carro, enquanto Polanski a levava para casa e lhe perguntava se estava bem. "Sim, estou bem, não se preocupe", ela lhe respondeu. Nesse momento, o cineasta pedia à adolescente que não contasse nada à mãe dela.

"Eu estava sendo fotografada por Roman Polanski e me estupraram", escreveu depois em seu diário, de acordo com o livro.

Sua vida mudou para sempre, e ela diz que, com frequência, pergunta-se se fez bem em não contar o que aconteceu.

Durante 13 anos, viveu sob a pressão implacável da mídia, da polícia e do tribunal da Califórnia, apesar dos esforços de sua família para protegê-la. "O que aconteceu não foi pior do que o que iria acontecer depois", escreveu.

Em seu livro, Geimer denunciou o sistema judicial da Califórnia e os "atores corruptos com um maior objetivo da publicidade do que com a preocupação com a justiça."

Aos 13 anos, "meu crime foi ter sido vítima de um estupro por parte de uma celebridade de Hollywood", denuncia.

Hoje, Samantha é uma mãe de três filhos já crescidos, que divide seu tempo entre o Havaí e Nevada, nos EUA.

"Minha família nunca pediu que Polanski fosse punido. Apenas queríamos que a máquina judicial parasse", escreve ela.

No final de livro, Samantha diz que perdoou Polanski, que ficou 42 dias de preso e foi solto após pagamento de fiança. O cineasta acabou fugindo para a Europa antes do anúncio da sentença.

"Não o perdoei por ele, fiz por mim", explicou.


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