Folha de S. Paulo


Em protestos, funcionários da Cinemateca dizem que acervo da instituição está em risco

Funcionários da Cinemateca Brasileira afirmaram, em carta divulgada neste sábado (14) num ato público organizado pela ABD-SP (Associação Brasileira de Documentaristas de São Paulo), que estão enfrentando dificuldades para prestar serviços essenciais desde que o Ministério da Cultura suspendeu repasses de custeio e investimentos para a instituição.

Segundo funcionários, a preservação do acervo e o atendimento ao público estão prejudicados. Serviços como o empréstimo de cópias para mostras e festivais e a produção de novas cópias (digitais e em película) para fins de preservação foram afetados e pesquisa e licenciamento de imagens, interrompidos.

O ato em frente à sede da Cinemateca Brasileira, na zona sul de São Paulo, reuniu cerca de cem pessoas, entre ex-funcionários, profissionais de cinema, estudantes, conselheiros da instituição e frequentadores.

Danilo Verpa/Folhapress
Fachada da Cinemateca Brasileira, em São Paulo
Fachada da Cinemateca Brasileira, em São Paulo

A instituição vive uma crise administrativa desde janeiro deste ano, quando o diretor Carlos Magalhães foi exonerado pela ministra da Cultura, Marta Suplicy, sem que um substituto fosse indicado pela pasta.

Leopoldo Nunes, secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, afirmou à época que a mudança foi o início de uma série de esforços para retomar o controle da Cinemateca, administrada por uma organização não governamental.

Auditorias da CGU (Controladoria-Geral da União) sobre os exercícios de 2010 e 2011 da Cinemateca apontaram falta de controle do ministério sobre a execução dos recursos, além de problemas na gestão de bens e em licitações.

FALTA DE PESSOAL

Desde março, o quadro funcional da instituição foi reduzido quase pela metade. Em fevereiro, a equipe técnica contava com 124 funcionários; hoje, são 59, sendo 22 concursados e 37 prestadores de serviços. Os contratos destes últimos têm encerramento previsto para o fim deste ano.

Segundo os funcionários, a falta de pessoal (e verbas) levou à interrupção de serviços essenciais para o funcionamento da instituição.

"O espectro do desmonte, da morte anunciada, já está no ar", afirmou Carlos Augusto Calil, conselheiro da Cinemateca e ex-secretário da Cultura, na manifestação. "A Cinemateca vai virar um museu. O laboratório vai virar um fantasma, depois de um investimento de R$ 100 milhões".

"A Cinemateca está com seus projetos parados por discussões que eu desconheço. Como produtora, eu sinto na pele os efeitos. Está mais do que na hora das autoridades deixarem de lado suas diferenças e botarem a Cinemateca para funcionar", disse a produtora Sara Silveira, da Dezenove Som e Imagem Produções.

DIÁLOGO

Na última terça-feira (10), Leopoldo Nunes se reuniu com a a ABD-SP. Segundo documento entregue pelo secretário à associação, a pasta tem mantido diálogo com o

Conselho da Cinemateca a fim de buscar soluções para supostas irregularidades na gestão da instituição, apontadas nas auditorias da CGU.

Entre as propostas, estão a contratação de serviços por licitação pública e a instituição de concurso público para a contratação de funcionários.


Endereço da página: