Folha de S. Paulo


Novo curador planeja Flip com 'mente aberta' e 'humor'

Anunciado na segunda-feira (9/9) como curador da 12ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), programada para agosto de 2014, o editor, tradutor e jornalista Paulo Werneck, 35, diz que pretende organizar uma festa com a mente aberta e o humor que marcam seu histórico como editor, nos 11 anos em que atuou na Cosac Naify e na Companhia das Letras e nos três anos em que editou a "Ilustríssima", na Folha.

"Minha trajetória como editor, se você observar, sempre foi acompanhada de um certo humor. Embora não seja escritor, meu grupo literário, com Antonio [Prata], Fabrício [Corsaletti], Chico [Mattoso], tem o humor como marca", diz Werneck, que estreou em livro em 1999 com Prata, Mattoso e Zé Vicente, no volume de crônicas de viagem "Cabras" (Unisol).

Werneck recebeu no início da semana passada o convite da Flip, com a qual tem longa relação "como editor, jornalista e parte do público". É o sétimo nome a coordenar a curadoria da festa, depois de Flávio Pinheiro (2003-2004), Ruth Lanna (2005-2006), Cassiano Elek Machado (2007), Flávio Moura (2008-2010), Manuel da Costa Pinto (2011) e Miguel Conde (2012-2013).

Sobre o autor homenageado da próxima edição, que deve ser anunciado nas próximas semanas, diz que ainda não há nenhuma decisão. "Neste momento, minha Flip é a melhor de todas. Como ela vai se viabilizar é outra coisa", brinca. Leia abaixo a conversa com o curador.

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Folha - O que significa para você ser curador da Flip?
Paulo Werneck - Nunca ambicionei isso, mas acho natural que a oportunidade me seja oferecida, porque fui criado ali. Estive lá desde a primeira edição, com o Chico Mattoso, que é meu companheiro de geração literária --estreamos em livros juntos [com "Cabras - Caderno de Viagem", de Antonio Prata, Chico Mattoso, Paulo Werneck e Zé Vicente, publicado pela Unisol em 1999], fizemos uma revista literária ["Ácaro", com três edições entre 2002 e 2005], que acabou originando o convite para ele participar do "Parati para Mim" [publicado pela Planeta em 2003, com João Paulo Cuenca e Santiago Nazarian], o anúncio de uma nova geração chegando. Acompanhei a Flip desde o começo, na Casa da Cultura, com grandes autores, parecia uma sala de aula. E, depois, estive em quase todas as edições, como editor, jornalista, parte do público e filho do meu pai [Humberto Werneck, jornalista e escritor], que tem uma história ligada à festa.

E o que norteará seu trabalho na curadoria?
Assim como no trabalho de editor, seja de livros, seja de jornal, você tem a oportunidade de afirmar o seu gosto, o que acredita ser importante, as descobertas, o que pode ser valorizado, aqueles grandes autores que têm algo a dizer ou que possam ter um contato marcante com o público. É interessante pensar também o que pode ser ou não literário, que é uma discussão que volta a cada edição. Quem conhece minha trajetória sabe que tenho a mente aberta. Acho que a literatura precisa conversar com outras formas de arte, de veiculação de ideias. Mas também na Flip tem sempre uma dose de sorte, de acaso, de autores que estejam disponíveis na ocasião do convite, tudo isso. Quero que seja uma Flip marcante, que tenha novidades, surpresas, como todo projeto cultural deve ter.

Alessandro Shinoda - 14.abr.2011/Folhapress
O editor e jornalista Paulo Werneck, novo curador da Flip, na Redação da Folha em 2011
O editor e jornalista Paulo Werneck, novo curador da Flip, na Redação da Folha em 2011

Além de sorte e disponibilidade, há também uma discussão grande com editoras, com patrocinadores --que podem chegar a definir mesas, como a de Nelson Pereira dos Santos neste ano, organizada pelo Itaú Cultural. Como planeja lidar com isso?
É natural que as editoras queiram opinar, a Flip também é para apresentar aos brasileiros os autores que estão à disposição deles no mercado brasileiro. A Flip não é só para quem vai a Paraty. Quando você faz uma boa matéria num jornal, a Flip vai para o Brasil inteiro. A pessoa lê uma entrevista e depois pode comprar um livro, se achar interessante. Ou, mesmo que não leia o livro, tem contato com as ideias daquele autor pelo jornal. Por outro lado, a Flip sempre trouxe autores que não estavam publicados, talvez até a contragosto de editoras.

Quando você estava na Folha, fizemos para a "Ilustrada", pouco antes da Flip deste ano, uma reportagem a partir da percepção de uma presença maciça de autores de esquerda no evento, em detrimento de outros mais conservadores. Essa percepção é algo que será levando em conta na sua curadoria?
Vou fazer a Flip que me for possível fazer, no sentido da disponibilidade dos autores. Do ponto de vista ideológico, não pretendo fazer nenhum eixo tão marcado, mas algo que tenha personalidade. Neste momento, minha Flip é a melhor de todas. Como ela vai se viabilizar é outra coisa. Essa reportagem foi feita antes da Flip, não tínhamos como saber tudo. A reportagem não era opinativa, apenas detectamos um perfil de autores e fomos verificar a opinião das fontes. As mesas sobre as manifestações se mostraram um acerto, a Flip não poderia virar as costas a isso.

Como editor da "Ilustríssima", você sempre tentou colocar humor no caderno. Podemos esperar isso na Flip também?
Minha trajetória de editor, se você observar, sempre foi acompanhada de um certo humor. Embora eu não seja escritor, e sim editor e tradutor, meu grupo literário, com Antonio [Prata], Fabricio [Corsaletti], Chico [Mattoso], tem o humor como marca. A revista que editamos, a "Ácaro", tinha muito humor, nasceu em um caldo de fermentação do que estamos vendo hoje, com diferentes grupos se formando. Era uma revista bem misturada, com autores consagrados, como Sergio Sant'Anna, e supernovos, como a Vanessa Barbara, que teve seu primeiro texto numa edição impressa publicado lá.

O que está decidido sobre o autor homenageado da próxima Flip? Na entrevista de encerramento da última edição, Mauro Munhoz [presidente da Casa Azul] chegou a citar nomes em avaliação, como Mário de Andrade, Monteiro Lobato, o próprio Lima Barreto, que originou a campanha na internet, eventualmente alguma mulher.
Não há nenhuma decisão, as coisas estão muito indefinidas. Preciso me reunir ainda com o pessoal da Flip, há muita coisa ainda a ser decidida. Mas a Flip já está acontecendo, não estamos fundando a edição. Já há até convites que foram feitos, autores que a Flip quer trazer e não é de hoje. Vamos ver se agora a gente consegue.


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