Em "Tudo Está Organizado Para que Nada Aconteça", da Cia Humbalada (Interlagos, São Paulo), um corpo sumiu e os personagens precisam reunir os pedaços para uma sobrevida.
"O Morro do Pássaro Falante", da Casa do Beco (Belo Horizonte), mostra os conflitos do dia a dia em uma comunidade, como o acumulo de lixo, a violência doméstica.
A partir deste sábado (7/9), o bairro de Cidade Tiradentes, na zona leste paulistana, receberá o Encontro Comunitário de Teatro Jovem.
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| Apresentação do grupo paulistano Mingau de Concreto, um dos destaques do 5º Encontro Comunitário de Teatro Jovem |
Haverá apresentações em auditório, nas ruas e um fórum de discussão sobre o teatro em comunidade, com partcipação de diversos representantes brasileiros e latino-americanos --a maioria oriundos das periferias das grandes cidades, como Lima ou Buenos Aires, e também das selvas ou zonas rurais, caso dos guatemaltecos do Caja Ludica.
O evento, já em sua quinta edição, é uma iniciativa do Pombas Urbanas, coletivo com uma tradição de 24 anos de pesquisa e produção teatral para populações historicamente marginalizadas.
Só no segundo semestre do ano passado, 9.000 pessoas visitaram o galpão de 1.600 metros do grupo, cedido em regime de comodato pela Cohab, entre cursos de formação de atores, eventos comunitários e apresentações teatrais e circenses.
E no que consiste o teatro em comunidade? Para Juliana Flory, do Pombas Urbanas, "é fazer teatro 'na', 'com' e 'para' a comunidade". "É um vínculo com o meio, um sentido de pertencimento, algo mais próximo às origens do teatro", explica.
Não é só assistir a peça, mas o processo de envolvimento com todo processo de criação dela. Não existe relação comercial --é tudo gratuito. E o elenco é formado por jovens da comunidade. Daí emergeria o conceito do "ator orgânico" --aquele que não dissocia sua arte da vida.
"A idéia é dialogar com a realidade das pessoas, sua memória, identidade e imaginário", diz Juliana. "O que não significa falar apenas da realidade local, pois as questões universais também fazem parte da vida de cada um".
Um dos destaques do evento será a apresentação de "Águas Profundas", do Vichama Teatro, peruano. A sede do grupo, que tem 30 anos de existência, fica na comunidade El Salvador, região desértica na periferia de Lima. A peça fala sobre a falta de água não só no âmbito local, mas global.
LONGE DO CENTRO
Cidade Tiradentes está a 40 km do centro de São Paulo e tem um dos piores IDHs do município. Muitos dos que chegam ao centro cultural Arte em Construção, do Pombas Urbanas, nunca tiveram contato anterior com a atividade cênica.
A linguagem para populações com pouco ou nenhum acesso à arte, contudo, não deve ser vista sob uma perspectiva simplificadora, de acordo com Juliana: "Não se trata de um panfleto de fácil leitura. Buscamos uma expressão original da cultura popular que muitas vezes é mais complexa que o teatro feito em shopping", afirma.
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| Apresentação do grupo de teatro Palombar |
"Quem é da periferia tem que saber como sobreviver com relação ao transporte precário, à questão da moradia, ao preconceito nas relações de trabalho", diz. "Enfrentar tudo isso desenvolve um olhar apurado da decodificação do real. Esse público não é besta, tem um olhar treinado".
Para Celso Curi, um dos curadores do Festival de Curitiba, o trabalho do Pombas Urbanas "sempre foi fundamental para o teatro". "Através de grupos organizados nas comunidades é que chegaremos a um novo teatro, aquele que dialoga com o público verdadeiramente e o representa".
5º Encontro Comunitário de Teatro Jovem da Cidade de São Paulo
QUANDO de 07 a 15 de setembro, das 10h às 20h
ONDE Centro Cultura Arte em Construção (CCAC) - Avenida dos Metalúrgicos, 2.100 - Cidade Tiradentes, SP; Tel. (11) 2285-5699 / 2285-7758
QUANTO grátis