Folha de S. Paulo


Drama faz de Lech Walesa um herói infalível no Festival de Veneza

Como construir um retrato de um simples eletricista que se transformou no símbolo do início do fim do regime comunista no leste europeu?

Um sujeito que liderou milhões de trabalhadores contra um governo opressor? Um pai de seis filhos que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1983, foi recebido pelo Congresso americano com status de estadista e teve dedicatórias até em discos do U2?

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A pergunta foi respondida pela lenda do cinema polonês Andrzej Wajda, 87, em Veneza, na primeira exibição mundial de "Walesa: Man of Hope", uma biografia do sindicalista polonês que, à frente do partido Solidariedade, enfrentou o domínio soviético em seu país nos anos 1980.

Kacper Pempel - 13.ago.2013/Reuters
Andrzej Wajda, 87, diante do pôster de 'Walesa', em Varsóvia
Andrzej Wajda, 87, diante do pôster de 'Walesa', em Varsóvia

Wajda, amigo de longa data de Walesa, usa como força motriz uma entrevista do sindicalista à italiana Oriana Fallaci (1929-2006), uma das mais conhecidas jornalistas dos anos 1960 e 1970, interpretada por Maria Rosaria Omaggio ("Para Roma, com Amor"). Ao longo das perguntas e respostas, o cineasta segue a trajetória do eletricista (Robert Wieckiewicz) ao carismático líder que ousou dizer que a URSS nunca mandaria tanques para Varsóvia quando os sindicatos declararam greve geral na Polônia.

O drama, exibido fora de competição, funciona para lembrar a importância de Walesa, mas falha em enxergar seus defeitos --como uma presidência altamente criticada por falsas promessas nos anos 1990 e suas declarações contra as minorias homossexuais no Congresso polonês, no início do ano. "Walesa é um herói do próprio tempo, e foi por isso que fiz esse filme", disse Wajda.

"As pessoas tendem a esquecer rapidamente que ele reuniu 1 milhão de trabalhadores, parando a produção de aço para a indústria bélica soviética. Se os operários param, nada pode ser produzido. Eles são os verdadeiros inimigos do comunismo."

O crítico polonês Krzysztof Kwiatkowski, da revista "Wprost Weekly", diz que ficou "surpreso" com o longa, mas que toda a imprensa polonesa estava receosa com o resultado final. "O filme representa o encontro de duas lendas do país e é importante ressaltar esse fato, mas faltou mostrar com mais veemência e dramaticidade a opressão comunista contra a qual Walesa estava lutando."

FIM DE FEIRA

No penúltimo dia de competição, o Festival de Veneza teve cenário de fim de feira. Vários jornalistas já deixaram o país (a maioria para o festival de Toronto, que começou na quinta-feira) e até a programação ficou desleixada: o francês "La Jalousie" foi exibido juntamente com outro longa em competição, o malaio "Stray Dogs", de Tsai Ming Lang.

Enquanto o longa de Philippe Garrel é quase uma novela mexicana sobre ciúme com pretensão intelectual (em preto e branco, para começar), Lang testa a paciência do espectador ao retratar uma família de mendigos na Malásia com planos de até dez minutos sem nada acontecendo na tela.

O documentário italiano "Sacro Gra", de Gianfranco Rosi, sobre a rodovia que circunda Roma e alguns personagens ligados a ela, atraiu poucos espectadores, mesmo em competição, mas foi bem recebido.


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