Folha de S. Paulo


Filmado sem cortes, novo filme de Amos Gitai vem para a Mostra de São Paulo

O cineasta israelense Amos Gitai é uma figurinha fácil na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. E seu novo longa, "Ana Arabia", todo filmado em plano sequência (uma cena feita sem cortes), sairá da mostra competitiva do Festival de Veneza, onde foi exibido nesta segunda-feira (2), para o evento na capital paulista, que acontecerá entre os dias 18 e 31 de outubro.

Por 1h30, a câmera segue a jornalista Yael (Yuval Scharf, tão linda que mais parece uma modelo do que uma jornalista investigativa) em busca de histórias em uma comunidade em Jaffa que abriga vários árabes e judeus vivendo em harmonia.

"O filme é uma bomba, mas uma bomba de paz", afirma Gitai, em Veneza. "Hoje em dia, projetamos imagens de violência vindas do Oriente Médio, mas esse enclave entre Jaffa e Tel Aviv mostra como a humanidade pode coexistir mesmo em uma frágil utopia."

A escolha inusitada e ousada de fazer o filme em tempo real exigiu bastante de Gitai e de sua equipe técnica. Além dos ensaios, houve testes para encontrar câmeras capazes de suportar a missão e detalhamento de marcações em uma maquete.

"Conceitualmente, o cinema tem de andar com dois pés: a narrativa e a forma. Temos filmes que só têm forma, enquanto há outros esquemáticos, didáticos. O meu desafio foi unir as duas coisas", explica o cineasta. "Também não quis ter cortes no longa para passar a mensagem de que a ideia de amizade entre árabes, judeus e palestinos precisa ter continuidade."

A técnica é interessante e não desvia o espectador das diversas histórias sobre ex-refugiados ou mulheres de prisioneiros palestinos que Gitai colheu ao longo dos anos. Mas o formato verborrágico exige muito do espectador, principalmente porque não há nenhum relato extremamente surpreendente, a não ser a "Ana Arábia" do título, uma judia que nasceu em Auschwitz e se converteu ao islamismo para se casar com um palestino.

"Precisamos manter utopias como essas vivas, mesmo em tempos sombrios", deseja o israelense de Haifa. "Não sou um homem religioso, então não vou dizer que vou rezar para que a humanidade siga em frente e acabe com o preconceito. Vou apenas ter esperança."


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