Em sabatina realizada nesta terça (3/9) no auditório da Folha, o fotógrafo Sebastião Salgado, 69, admitiu que sempre negou a fotografia digital e que só recentemente mudou de ideia a respeito do seu uso.
Salgado abre nesta quinta (5/9) no Sesc Belenzinho, em São Paulo, a exposição "Gênesis" --na quarta a mostra será aberta para convidados.
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"Durante o curso do projeto ["Gênesis"], eu comecei a ter muitos problemas por causa dos negativos e filmes. Como os deslocamentos eram longos, em alguns dias eu chegava a passar por sete aeroportos e o raio-X começou a danificar muito o meu material. Era uma coisa tensa, me peguei discutindo várias vezes na tentativa de evitar que os rolos passassem por aquilo, porque perdia-se muito da qualidade", contou.
Salgado foi sabatinado pelos repórteres especiais Cassiano Elek Machado e Fernanda Mena, pelo colunista Marcelo Coelho e pelo editor do TV Folha, João Wainer.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
O fotógrafo Sebastião Salgado durante sabatina na Folha, observado por Fernanda Mena e Cassiano Elek Machado |
O fotógrafo contou que, por indicação de um amigo, passou a usar câmeras digitais, embora mantenha o processo de revelação tradicional das fotos.
"Antes eu chegava a levar 600 filmes para uma viagem, carregando uma mala de 28 quilos. Hoje eu levo 800 gramas de cartões digitais para as fotos que produzo e não perdi nada da qualidade de antes", afirmou.
"Não é que eu tenha mudado. Apenas deixei de registrar o meu trabalho num suporte plástico e agora registro em um suporte digital."
SELVAGEM
Sobre o "Gênesis", projeto que durou oito anos e retrata regiões intocadas do planeta Terra, Salgado contou histórias curiosas para deleite do público.
Entre elas a de quando foi à Etiópia. "Caminhei 800 quilômetros para chegar a um determinado ponto. Foi uma jornada de 45 dias, com a ajuda de 18 jumentos, 15 nativos e até um maratonista (que carregava meus equipamentos). E como a região estava em conflito, até determinado ponto iam conosco dois homens armados."
Salgado disse ainda que o projeto ("que é quase como o encerramento de um ciclo na minha vida") nasceu num momento de crise, logo após o "Exodus", em que fotografou movimentos migratórios (e as mazelas dos migrantes) ao redor do mundo.
"O 'Exodus' me deixou pessimista, desesperançado, eu parei de fotografar, voltei para Minas --os meus pais já estavam bem velhinhos. Fui para a fazenda onde cresci e lá, quando comecei um projeto de reflorestamento, senti o desejo de fazer algo ligado à Terra, ao nosso planeta", disse.
A respeito de sua predileção por fotos em preto e branco --ele deixou de fotografar em cores em 1987--, o fotógrafo disse que trata-se de uma questão de foco.
"Se eu vou fotografar uma garota com a camisa vermelha, a minha preocupação com a cor me tira o foco, por exemplo, da expressão dela, de quem está ao redor. O preto e branco me aproximam desse ponto mais sensível."
ÉTICA E INSTAGRAM
Na tentativa de resumir o seu ofício, Sebastião Salgado disse ainda que a sua fotografia é, em última interpretação, uma representação do estado de espírito dele. "Nas minhas fotos estão a minha ideologia, a minha ética, o modo como me relaciono com as pessoas, as coisas, os animais".
E acrescentou, ele que se tornou um ativista de causas ambientais e indígenas: "Nunca fiz fotografia para mudar o mundo, faço por prazer e, nela, busco uma representação para o meu pensamento".
E foi ao falar de fotografia e redes sociais que Salgado arrancou mais risos da plateia. Questionado se é usuário do Instagram, por exemplo, ele disse que era "de uma geração que tem muita dificuldade, muita vergonha de baixar a calça e mostrar a bunda. Eu jamais exporia coisas da minha vida pessoal".
GENESIS
QUANDO: de 05/09 a 1º/12
ONDE: Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000; tel. 0/xx/11/2076-9700)
QUANTO: grátis