Folha de S. Paulo


Nem nudez de Scarlett Johansson salva "Under The Skin" das vaias em Veneza

Scarlett Johansson de vez em quando deixa os blockbusters de lado para apostar em um filme independente. A atriz, entretanto, exagerou ao topar ser a única protagonista da ficção científica "Under The Skin", do inglês Jonathan Glazer ("Sexy Beast"): o filme apresentado nesta terça-feira (3) na mostra competitiva do Festival de Veneza foi o mais vaiado do evento.

Não que Scarlett não se esforce. No papel de uma misteriosa mulher que caça homens solitários pela Escócia e os leva para um destino ainda mais estranho, a atriz precisa interpretar com diálogos mínimos, expressões frias e muita nudez --características pouco encontradas em sua filmografia "mainstream".

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"Na verdade, ela é bem parecida com a Viúva Negra", brinca a atriz referindo-se a seu papel em "Os Vingadores". "Falando sério, desde o começo eu sabia que qualquer ideia preconcebida sobre como interpretar essa personagem era irrelevante. Foi como treinar um cão e colocar atributos humanos a ele. Foi aterrorizante."

Tiziana Fabi/AFP
Scarlett Johansson durante sessão de fotos no festival de cinema de Veneza
Scarlett Johansson durante sessão de fotos no festival de cinema de Veneza

O problema de "Under the Skin" é sua pretensão visual, que culmina em um abismo niilista que nem dez Scarlett Johansson nuas salvariam do desastre. Baseado no livro homônimo de Michel Faber, de 2000, o filme tenta fazer um estudo sobre desejos --os homens são todos atraídos por Scarlett, que é uma alienígena em busca de carne na Terra (sim, você leu corretamente)-- e sobre isolamento, detritos sociais, já que as vítimas desaparecem com facilidade e sem repercussão.

"Não trabalho com subtextos. O que quis passar era a visão de uma alienígena em nosso mundo, vendo tudo pela primeira vez", diz o diretor. "Gosto de forçar os limites o máximo possível e esse filme exigia uma experiência sensorial, não diria experimental."

Glazer é um cineasta que acredita ser o novo Stanley Kubrick. Nem o fracasso crítico e financeiro de "Reencarnação" (2004), uma das produções mais vergonhosas da década passada, serviu de lição para o britânico, que ganhou notoriedade pela estreia no violento "Sexy Beast" após criar vídeos para Nick Cave, Radiohead e Blur. E talvez seja desse modo que "Under The Skin" deva ser encarado: como um grande clipe com uma mulher linda nua várias vezes. Mas para isso já temos "Blurred Lines", de Robin Thicke.


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