Folha de S. Paulo


Gus Van Sant fala à Folha sobre "Terra Prometida", exibido em mostra no Rio

Na primeira vez que Matt Damon protagonizou e escreveu um roteiro para o cineasta Gus Van Sant dirigir, o resultado foi "Gênio Indomável", que levou nove indicações ao Oscar de 1998.

Depois de passar por um segundo projeto, o experimental "Gerry" (2002), a dupla retorna com planos mais ambiciosos em "Terra Prometida", um dos destaques do 3º Filmambiente - Festival Internacional de Audiovisual Ambiental, que começou na sexta-feira (30/8) e vai até a próxima quinta (5/9) no Rio.

No drama escrito por Damon com o também ator John Krasinski ("The Office"), Van Sant investiga um polêmico processo de extração de gás natural chamado de "fracking", que utiliza produtos químicos para ajudar na perfuração do solo e pode contaminar lençóis freáticos.

O diretor afirma que não tinha conhecimento do método que virou moda nos Estados Unidos e está em vias de entrar na Inglaterra --após a crise do petróleo e a queda da economia em 2008--, e diz que o longa não traz uma mensagem ecológica.

"Eu aprendi muito sobre a discussão das várias fontes energéticas. A maioria fala que [o 'fracking'] é um método perigoso com resultados imprevisíveis, mas o filme sempre foi sobre vendedores e sua fé e fidelidade às companhias", explicou o cineasta à Folha. "A história é sobre manipulação corporativa."

Não deixa de ser verdade. Damon e Krasinski fazem dois lados da mesma moeda: o primeiro, à serviço das grandes corporações de energia, vende a promessa de dinheiro fácil para fazendeiros humildes, enquanto o segundo é um ativista que tenta alertar a população sobre os riscos do fracking, um processo que transformou empresas pequenas em companhias bilionárias --a Exxon comprou a XTO Energy, uma das principais exploradoras de gás natural dos EUA, por US$ 31 bilhões (R$ 75 bilhões).

"Não ouvi nenhuma crítica ao filme vinda das companhias, mas certos sites afirmam que houve por parte de assessores das empresas", diz Van Sant.

"Eu nunca pensei que nosso longa fosse tão detalhado a ponto de ser um ataque ao fracking. Acho que diminuir nosso trabalho foi algo que alguns defensores do processo precisavam fazer como relações públicas."

Uma polêmica maior teria feito bem ao filme. "Terra Prometida" foi lançado no início do ano e, mesmo ganhando a honra de ter sido o filme de abertura do último Festival de Berlim, o fracasso não foi evitado.

Com orçamento de US$ 15 milhões (R$ 36 milhões), o longa faturou apenas US$ 7,5 milhões nos EUA e dificilmente terá uma carreira internacional por causa do tema específico --no Brasil, por exemplo, ele sairá direto em DVD e VoD.

"Não sei o que aconteceu [com o desempenho do filme]. Nosso orçamento não permitia grandes gastos em marketing e estreamos no meio de uma temporada disputada. O público pode ter achado que era um documentário. Ou simplesmente não colou", resigna-se o cineasta

John Macdougall - 8.fev.13/AFP
O diretor Gus van Sant (esq.) com os atores John Krasinski e Matt Damon (dir.)
O diretor Gus van Sant (esq.) com os atores John Krasinski e Matt Damon (dir.)

MAIS FÁCIL

Apesar de assinar clássicos do cinema independente americano como "Drugstore Cowboy" (1989) e "Garotos de Programa" (1991) e de ter transformado Nicole Kidman em estrela no ótimo "Um Sonho Sem Limites" (1995), Gus Van Sant acredita que filmar está "muito mais fácil agora".

"Você pode fazer um filme de graça hoje em dia, com equipamentos digitais ou iPhones. Nos anos 1980, isso parecia impossível por causa da necessidade da película", afirma.

Mesmo assim, o cineasta admite que os diretores alternativos hoje sofrem para ganhar prestígio e conforto financeiro, como aconteceu com ele, Steven Soderbergh ("Sexo, Mentiras e Videotape"), Quentin Tarantino ("Pulp Fiction") e Wes Anderson ("Três é Demais").

"Houve uma época em os estúdios decidiram entrar no cinema alternativo porque alguns daqueles filmes menores estavam fazendo muita grana, mas eles não eram feitos para serem domesticados e a maioria se foi", diz Van Sant, que não acredita em uma implosão da indústria cinematográfica como previram Steven Spielberg e George Lucas.

"Há uma teoria que filmes grandes serão parte do passado e só haverá produções de baixo orçamento, mas não é o que está acontecendo no mundo agora."

FILMAMBIENTE - FESTIVAL INTERNACIONAL DE AUDIOVISUAL AMBIENTAL
ONDE Espaço Itaú de Cinema (Botafogo), Instituto Italiano de Cultura (av. Presidente Antônio Carlos, 40) e outros locais (veja relação completa )
QUANDO de 30 de agosto a 5 de setembro
QUANTO grátis


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