Folha de S. Paulo


Drama espacial 'Gravidade' é aplaudido no primeiro dia do Festival de Veneza

O diretor mexicano Alfonso Cuarón ("Filhos da Esperança", "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban") fez da abertura do 70º Festival de Veneza, na quarta-feira (28), um gigantesco observatório espacial.

Seu esperado "Gravidade" --uma façanha em 3D protagonizada por Sandra Bullock e George Clooney e repleta de efeitos especiais-- foi muito aplaudido na estreia mundial.

O filme, escrito por Cuarón e seu filho, Jonás, e orçado em US$ 80 milhões (cerca de R$ 187 milhões), tem um roteiro de simples premissa e execução complicada. O longa está fora de competição em Veneza e deve estrear no Brasil no dia 11 de outubro.

Divulgação
Sandra Bullock em cena de 'Gravidade', filme dirigido por Alfonso Cuarón
Sandra Bullock em cena de 'Gravidade', filme dirigido por Alfonso Cuarón

Bullock e Clooney são dois astronautas americanos na órbita terrestre com a missão de consertar o telescópio espacial Hubble.

Mas a explosão de um satélite russo provoca uma onda destruidora de detritos que deixa a dupla à deriva no espaço. Eles precisam realcançar a estação internacional antes que os destroços voltem e o oxigênio acabe.

É um texto simples, que se contrapõe à exigência de uma série de técnicas para simular gravidade zero, desmanches épicos de ônibus espaciais e satélites e o próprio espaço, a grande estrela do filme.

"O espaço é o ambiente mais hostil que existe, com ação e reação imprevisíveis. O grande desafio foi representar essas ações, porque somos acostumados a deixar as coisas caírem. Lá em cima isso não existe", disse Cuarón, que não dirigia um longa-metragem havia sete anos.

"Queríamos fazer um filme pelo qual o espectador roesse as unhas, mas também se importasse com os personagens", completou Jonás.

A equação deu certo. "Gravidade" funciona --mas é quase impossível descrever a experiência de assisti-lo sem estragar seu impacto.

Os 17 minutos iniciais formam quase um plano-sequência e só não são o melhor do filme porque pouco depois Bullock protagoniza uma sequência de fuga tão tensa e nervosa que praticamente obriga o cinema inteiro a prender a respiração.

Alfonso Cuarón consegue brincar com os efeitos especiais sem relegar a dramaticidade. "Gravidade" é sobre renascimento e superação, algo que exige bastante do talento --que não é grande-- de Sandra Bullock.

"Preciso falar sobre a performance de Sandra no filme, porque foi algo impressionante. Você precisa se mover devagar e falar depressa. Isso é muito difícil. Nunca conseguiria fazer igual", disse Clooney, em entrevista à imprensa mundial em Veneza.

"Na verdade, minha preparação foi beber durante o filme todo", brincou o ator.

Clooney consegue interpretar a si próprio, mesmo perdido no espaço: é um bonachão charmoso, um veterano repleto de histórias engraçadas e piadas instantâneas.

É justamente por saber explorar essas personalidades e por não se contentar em gerar cenas corriqueiras que "Gravidade" figura como o primeiro filme-evento de 2013 que não decepciona.

70 DIRETORES

O primeiro dia de Veneza também teve a exibição de "Veneza 70 - Future Reloaded", filme com curtas de 70 diretores em comemoração do aniversário do festival.

O resultado da experiência é mais festivo do que significativo. Com o limite de 90 segundos para cada "doação" dos cineastas, nada muito espantoso foi produzido por nomes como o iraniano Abbas Kiarostami e o israelense Amos Gitai e pelos diretores brasileiros Karim Aïnouz, Júlio Bressane e Walter Salles.


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