Folha de S. Paulo


Para ator, violência de 'Kick-Ass 2' é só HQ

É tudo ficção. Assim o ator britânico Aaron Taylor Johnson, 23, defende o fime "Kick-Ass 2" das acusações de fazer apologia da violência.

A produção inspirada em quadrinhos parte, nesse segundo episódio, da mesma premissa do filme original de 2010: um típico nerd americano se veste de super-herói e sai pelas ruas fazendo justiça com as próprias mãos.

A receita já foi suficiente para estourar bilheterias em 2010, mas agora é ameaçada pelo "fogo amigo" de Jim Carrey. Uma das estrelas da produção, ele desistiu de divulgá-la após mais um massacre em escola primária nos EUA.

O astro explicou que as filmagens terminaram pouco antes da tragédia de Sandy Hook, em que um jovem matou a mãe, 20 crianças e seis adultos antes de se suicidar.

"Agora, em sã consciência, não posso apoiar esse nível de violência. Não tenho vergonha do filme, mas os fatos recentes mudaram meus sentimentos", justificou Carrey.

Em entrevista à Folha, Taylor-Johnson disse não ver ligação entre esse tipo de produção e as tragédias nos EUA. "Kick-Ass 2" estreia no Brasil em 18 de outubro.

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Folha - O que você achou da decisão de Jim Carrey de abandonar a divulgação do filme?
Aaron Taylor-Johnson - Ele tem direito a ter sua opinião. No set, estava incrivelmente entusiasmado e dizia ser fã do primeiro episódio e da história em quadrinhos original.

Ele disse que mudou de ideia, e eu respeito isso. O filme é uma obra de ficção. Se você é fã de quadrinhos e viu o primeiro episódio, já está esperando ver aquele tipo de violência. É uma violência de quadrinhos, com humor.

É justo dizer que "Kick-Ass" faz apologia da violência?
Não acredito nisso. O filme é uma obra de ficção e não será exibido para crianças.

Quentin Tarantino teve o mesmo problema quando filmou "Django". Ele também usa esse tipo de violência dos quadrinhos, mostra sangue jorrando, essas coisas. É entretenimento. Não é algo realista, mas é engraçado.

No mundo real, se você sair atrás de problema, vai encontrar. Meu personagem em "Kick-Ass" perde pessoas que ele ama, e isso mostra que você precisa ser responsável pelas suas ações. É outra mensagem. Nós não glamurizamos a violência.

Os jovens do filme se vestem de super-heróis para fazer justiça com as próprias mãos. O que você acha dessa ideia, muito defendida nos EUA?
Eu não concordo. Acho que é completamente errado as pessoas poderem ter armas. Eu nunca atirei em toda a minha vida. Eles são americanos e eu sou britânico, não fui criado dessa forma.

O que aconteceu em Sandy Hook e em outros lugares foram tragédias horríveis, e eu fico chocado com a frequência com que elas se repetem naquele lado do mundo [os EUA]. É muito perturbador.

É parecido com Boston [o ataque terrorista de abril, durante a maratona]. Você não consegue entender o que se passa na cabeça dessas pessoas, mas não é algo que seja provocado pelo cinema. É mais profundo do que isso.


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