Folha de S. Paulo


FotoBienal traz 'contemporâneo' ao Masp

Numa avenida deserta, uma mulher de cabelos curtos e farda escura passeia lentamente montada num cavalo vermelho incandescente.

Sua expressão é ríspida, mas mal podemos ver seu rosto, que está coberto por uma focinheira preta.

Estamos em plena avenida Paulista, e o trote hipnótico deste cavalo fosforescente, um vídeo da artista paraense Berna Reale, mostra que algo de novo acontece por ali.

"Palomo", obra batizada com o nome do equino paraense, marcha entre os mais de cem trabalhos expostos na mostra FotoBienalMasp.

A primeira edição do evento, inaugurada hoje para o público, reúne 35 artistas brasileiros e estrangeiros, em dois espaços do Museu de Arte de São Paulo.

Não são só fotografias, estáticas, que compõem esta bienal, como ilustra o cavalo encarnado de Reale. Boa parte dos trabalhos são instalações ou vídeos.

"A ideia era fazer uma exposição de fotografia e de arte e discutir como, em todas as linguagens disponíveis, estes dois universos estão se relacionando", explica o curador da exposição, Ricardo Resende, diretor do Centro Cultural São Paulo.

O elenco selecionado por ele é composto tanto por fotógrafos e artistas já consagrados, como a hoje onipresente performer sérvia Marina Abramovic e o chileno Alfredo Jaar, representante do país na atual Bienal de Veneza, até por iniciantes, como o cearense Leonardo Mouramateus, de 22 anos.

Ainda que o próprio Resende enfatize que não estipulou temas, e que fez sua seleção com base em artistas, a organização espacial das obras deixa claros alguns eixos temáticos da FotoBienal.

Logo na entrada do mezanino, há, por exemplo, uma série de imagens da arquitetura da cidade de São Paulo, como a grande fotoinstalação do espanhol Isidro Blasco, inédita, que retrata o "skyline" da cidade, ou a série de autorretratos do fotógrafo Fabiano Rodrigues andando de skate em espaços como a Pinacoteca, a Oca e o Museu de Arte Contemporânea da USP.

A arquitetura também estrutura as fotos do português André Cepeda, feitas enquanto o artista perambulava pela cidade, no ano passado, ou as imagens que Mauro Restiffe fez de um dos ícones da arquitetura mundial, a Glass House, de Philip Johnson, em Connecticut, Estados Unidos.

Mas mais marcantes do que as imagens urbanas da FotoBienalMasp são os registros de natureza, presentes nos dois andares da mostra.
natureza inventada

São em sua maioria naturezas "inventadas".

Nas fotografias de Caio Reisewitz, por exemplo, cenas de florestas ganham sutis manipulações de Photoshop, e em meio ao verde o espectador vê surgir favelas ou desmoronamentos discretos.

Em frente a cinco de suas fotos, de montanhas próximas a São João del Rey (MG), o artista Pedro Motta desafia a Folha: "Estas cenas são ou não são reais?".

A resposta é "sim" e "não". Em algumas, não há nenhuma manipulação. Em outras, o artista também faz pequenas intervenções digitais na paisagem.

A seu modo, o curador do Masp, Teixeira Coelho, também espera, com a mostra, intervir na paisagem do próprio museu que dirige.

"A Bienal, novo formato da parceria com a Pirelli, procura trazer o universo contemporâneo para o museu. Na próxima edição a mostra deverá ter o dobro de obras."

FOTOBIENALMASP
QUANDO a partir de hoje; de ter. a dom., das 10h às 18h; qui., das 10h às 20h; até 3/11
ONDE Museu de Arte de São Paulo - Masp (av. Paulista, 1.578, São Paulo, tel. 0/xx/11/3251-5644).
QUANTO R$ 15 (grátis às terças)


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