Folha de S. Paulo


Documentário exibido no Anima Mundi conta história da animação brasileira; veja trailer

Ressuscitando após anos de trevas, a animação brasileira está perto de sua era de ouro.

É assim que o documentário "Luz, Anima, Ação!" --que será exibido nesta quarta-feira (14), no festival Anima Mundi, em São Paulo-- retrata os quase cem anos da história da animação no Brasil, em uma obra que mistura entrevistas e imagens de animações clássicas.

Entre elas está aquela que é considerada a primeira animação brasileira, "O Kaiser", de 1917, que foi recriada com diferentes técnicas, já que o original se perdeu --resta apenas um fotograma e uma entrevista dada pelo autor da obra, Álvaro Marins.

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Segundo o diretor do documentário, Eduardo Calvet, a ideia de produzir um longa-metragem sobre o tema partiu da falta de obras de referência sobre o tema.

"Não havia muito informação, apenas um livro do Antônio Moreno, feito nos anos 1970", diz. "Havia também alguns curtas, mas, fora isso, praticamente nada."

Ao mesmo tempo, ele percebia uma curva de crescimento, com séries animadas como "Peixonauta" sendo exportadas para o exterior e entrando no mercado norte-americano, e, mais recentemente, o longa "Uma História de Amor e Fúria", de Luiz Bolognesi, ganhando um dos maiores prêmios internacionais do setor, o de melhor filme no Festival de Annecy, na França.

Durante a pesquisa para a obra, Calvet diz que encontrou imagens que há muito tempo não vinham a público, conseguindo um acordo com a Cinemateca de São Paulo, que cedeu animações antigas como "Macaco Feio, Macaco Bonito", de Luis Seel.

"Na hora em que a gente colocou a mão nesse material, o Canal Brasil, que tinha encomendado apenas um programa sobre a animação, decidiu que era possível fazer um longa-metragem", diz Calvet.

O documentário mescla obras históricas, como "Piconzé", o primeiro longa-metragem brasileiro de animação em cores, com histórias de animações mais recentes, como a "Turma da Mônica", contadas pelos próprios criadores.

PUBLICIDADE E TREVAS

Na obra, Maurício de Sousa conta como a publicidade impulsionou sua produção, com o elefante da Cica tornando o seu estúdio famoso e impulsionando a criação de mais obras.

Com outros casos famosos, como a animação do homem azul do cotonete da Johnson & Johnson e as propagandas animadas das Casas Pernambucanas, o longa enfatiza uma relação de dependência entre a animação e a publicidade, sobretudo nas décadas de 1960 e 1970, que começa a mudar apenas mais recentemente.

O filme também narra um período de "trevas", entre os governos de Sarney e Collor, quando a animação enfrentou uma época de ostracismo.

"Nós estávamos no auge de produção e crescimento, com muitos longas-metragens sendo produzidos, e a animação de repente quase acabou. Com o Sarney já estava ruim, por causa do contexto econômico da época, aí o Collor entrou e acabou com a Embrafilme [órgão estatal que incentivava o cinema nacional], ficando ainda pior", diz Calvet.

Esse momento de crise é simbolizado pelo longa-metragem "O Grilo Feliz", de Valdecir Ribas, que estava sendo produzido em 1987 e, por conta das dificuldades do período, só foi concluído 14 anos depois, em 2001.

A partir daí, o documentário narra o período de renascimento da animação brasileira, a partir dos anos 2000.

Segundo Calvet, um dos fatores que levaram ao renascimento da animação foi próprio Anima Mundi, festival onde o documentário está sendo apresentado.

"O festival começou pequeno, mas foi criando um público cativo, que começou a não só ver animação, como a fazê-la", diz.

Para ele, também a organização dos autores em torno deste evento, com o surgimento da ABCA (Associação Brasileira de Cinema de Animação) e o maior acesso a recursos tecnológicos também foram fatores determinantes.

"Hoje em dia, com um computador caseiro você consegue fazer uma animação razoável. Antes, você precisava de uma máquina de US$ 1 milhão, era um equipamento que só existia em grandes produtoras", diz.

SUCESSOS RECENTES

A narrativa chega, então, aos sucessos mais recentes, como "Peixonauta", que é passado em 67 países, e "Amigãozão".

"A cada seis meses, a gente vê uma série nova brasileira. Talvez essa nova geração seja a primeira a ser educada através de séries brasileiras", diz Calvet.

Para ele, as animações brasileiras atuais têm a qualidade e a economia como diferenciais.

"As animações americanas precisam de US$ 150 milhões para serem produzidas, enquanto os filmes brasileiros são feitos com US$ 2,5 milhões", afirma. "O Brasil nunca tinha entrado nos EUA até recentemente. É um mercado superprotegido. E conseguimos, com a série 'Nilba e os Desastronautas'", diz.

O documentário termina apontando um período de amadurecimento da animação no Brasil, que enfim caminha para uma maior independência com a produção de séries e longas-metragens, saindo um pouco da antiga dependência publicitária.

LUZ, ANIMA, AÇÃO!
QUANDO hoje (14/8), às 16h30
ONDE Espaço Itaú de Cinema Augusta (r. Augusta, 1.470/1.475, Consolação, São Paulo, tel.: 0/xx/11/3288-6780).
QUANTO R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada )


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