Folha de S. Paulo


Mixhell, projeto de Iggor Cavalera, faz som eletrônico com alma metal

O ex-baterista do Sepultura --a banda brasileira de metal mais amada de todos os tempos-- Iggor Cavalera não liga mais quando o chamam de traidor do movimento.

"Até me divirto", diz, no sofá do apartamento que divide com a mulher, Laima Leyton, e o filho caçula, Antônio, em São Paulo.

O motivo da bronca dos metaleiros atende pelo nome Mixhell, projeto de música eletrônica que Iggor mantém com Laima há sete anos e só agora solta o primeiro álbum.

Eduardo Knapp/Folhapress
Iggor Cavalera, Laima Leyton e Max Blum, a formação do Mixhell
Iggor Cavalera, Laima Leyton e Max Blum, a formação do Mixhell

Lançado pelo selo alemão Boysnoize (no Brasil, pela ST2), "Spaces" marca a chegada de um novo integrante, o amigo de longa data Max Blum. "Somos como uma família, adoramos passar horas falando de música", diz o baterista, que agora volta a dar prioridade total ao instrumento, depois de anos fazendo DJ sets com a mulher Laima.

"O Mixhell não tinha uma necessidade gigantesca de fazer um disco logo de cara, ao contrário do que acontece com uma banda de rock. No Sepultura, tinha que ter a gravadora por trás, a gente precisava do disco. Com o Mixhell, primeiro lançamos vários singles, que nos projetaram fora do Brasil", diz o baterista.

Blum completa: "A dinâmica da música eletrônica é diferente da do rock. Você não senta junto pra gravar, como numa banda. É mais difícil parar pra fazer um álbum", diz.

Iggor conta que começou a petiscar elementos da música eletrônica ainda no Sepultura, ouvindo discos de hip-hop e industrial, mas se rendeu mesmo ao gênero quando viu ao vivo o DJ francês Laurent Garnier e a banda LCD Soundsystem no Sónar SP, em 2004.

Se antes o Mixhell se apresentava com parafernália eletrônica e, em momentos, Iggor solando na bateria, agora o formato é de banda, com baixo (Max), bateria (Iggor) e Laima no sintetizador e vocais.

"O show tem a dinâmica de DJ set. A gente não queria perder esse ritmo, é como se fosse uma banda de discoteca", diz Laima. Ela conta que foi o marido quem a convenceu a ir para o centro do palco.

"A ideia de começar a cantar me aterrorizou. Sempre estudei música, mas meu pai me botou um trauminha, porque dizia que eu tinha que cantar perfeitamente. Aí fizemos um cover dos Pixies, eu cantei e ficou legal pra caramba. Daí relaxei", conta Laima.

Em junho, ela enfrentou a plateia do megafestival inglês Glastonbury. Apesar dos 20 anos de Sepultura, Iggor ainda fica tenso antes dos shows. "Sei o que pode dar errado. Se o técnico de som não for bom, pode ferrar tudo", afirma.

Hoje, as críticas dos metaleiros ao "traidor" mais divertem do que chateiam. "O Sepultura foi uma grande escola, aprendi a não levar a sério, fiquei mais cascudo. É até legal ver o quanto a gente é capaz de incomodar", diz Iggor.

Na Hungria, após um show do Mixhell, teve que autografar uma mochila cheia de CDs e vinis de um fã que pulava sem camisa com uma tatuagem do Sepultura no peito.

Com o irmão, Max, Iggor mantém a banda Cavalera Conspiracy. Disso veio o insight do filho do casal, Antônio, 7, que desconhece o passado bombástico do pai com o Sepultura. "Um dia ele me perguntou por que o Iggor era mais famoso que eu", diz Laima. "E ele mesmo respondeu: 'É porque o papai tem duas bandas. Você devia ter outra banda também, mamãe'."

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