Folha de S. Paulo


Cordel que inspirou música divide famílias de violeiros

O folheto que conta a história de um "pavão misterioso/ que levantou voo na Grécia/ com um rapaz corajoso/ raptando uma condessa/ filha de um conde orgulhoso" é um clássico da literatura popular nordestina. Foi criado no começo do século 20.

Em 2006, o livro "Memória das Vozes: Cantoria, Romanceiro e Cordel" (Fundação Cultural da Bahia), da pesquisadora francesa Idalette Muzart, cravou que seu autor é o paraibano José Camelo de Melo e não José Melchíades Ferreira --as famílias disputam a autoria até hoje.

Melchíades teria se apropriado de "O Romance do Pavão Misterioso" durante uma temporada de Camelo longe da Paraíba.

Para a escritora potiguar Clotilde Tavares, autora de "A Botija" (Editora 34), que reconta a obra em prosa, o folhetim é de ficção científica.

"Imagine: algo criado nos anos 1920, no interior do Nordeste, que falava de telegrama, fotografia, de uma construção que tinha 'alavanca, chave e botão/ Voava igualmente ao vento / Para qualquer direção'. Isso é futurismo, ora."

Segundo Clotilde, o folheto também é um auge da criatividade dos violeiros e cantadores nordestinos.


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