Folha de S. Paulo


Ponto de partida para romance 'Divórcio' foi 'pessoal e traumático'

Um escritor apontado como expoente da nova geração se casa com uma jornalista da área cultural com sólida carreira. O casamento dura três meses. Termina quando o marido depara com o diário da mulher, e se sente ultrajado.

Ele decide tornar pública a situação, elaborando-a ficcionalmente. O diário reaparece com considerações contundentes. As cenas de sexo são descritas em minúcias. E então se descortinam as mazelas do ambiente profissional da ex-mulher.

Crítica: Tema e narrativa evoluem juntos em romance 'Divórcio', de Ricardo Lísias

Não é a primeira vez que o escritor Ricardo Lísias, 37, atribui seu nome e algo de sua história ao personagem central. Assim foi com o "Céu dos Suicidas", seu romance anterior, ecoando a perda de seu amigo André.

Eduardo Knapp/Folhapress
O professor e escritor Ricardo Lísias, que lança o livro 'Divórcio' pela editora Alfaguara
O professor e escritor Ricardo Lísias, que lança o livro 'Divórcio' pela editora Alfaguara

"Tive mesmo a certeza de estar vivendo um dos meus textos", ele chega a escrever no livro "Divórcio", a certa altura.

Antes de publicar a última obra, Lísias escreveu dois contos que de certa forma a antecipam, publicados na "piauí", e um esboço do que seria um dos capítulos de "Divórcio", que circulou em uma tiragem caseira de 150 exemplares.

Também fez circular pela internet uma resposta a uma notificação extrajudicial enviada pelo advogado da ex-mulher, em 2011, que disserta sobre o propósito de lhe provocar prejuízos e dissabores de ordem pessoal e profissional. Juridicamente, depois da notificação, o caso não foi adiante.

A resposta de Lísias vai na mesma linha do texto que foi enviado à reportagem da Folha, em entrevista por e-mail. Ele preferiu não responder pontualmente às 20 perguntas enviadas. Enviou um bloco só, que começa assim: "Meu livro tem um ponto de partida pessoal e traumático e a partir dele criei um texto de ficção. A literatura não reproduz a realidade, mas sim cria outra".

E prossegue: "Na literatura contemporânea universal, isso é ponto pacífico. Hoje, J. M. Coetzee, Michel Houllebecq e E. Carrère deram outros passos nesse sentido, mostrando que não pode haver uma confusão entre autor e narrador, mesmo que o narrador tenha o nome do autor". (MORRIS KACHANI)


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