Nenhuma corrente estética foi tradução visual mais forte da escrita de Fiódor Dostoiévski, morto aos 59, em 1881, do que o expressionismo.
Na Alemanha e na Áustria do começo do século 20, décadas depois da morte do autor russo, artistas como Lasar Segall e Otto Möller começaram a ilustrar seus livros na tentativa de criar o equivalente visual de uma obra sobre os escombros da burguesia.
Max Beckmann, um dos maiores nomes do expressionismo alemão, disse querer ser para Dostoiévski o que Botticelli foi para Dante, ilustrando "A Divina Comédia".
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| Ilustração de Otto Möller para livro de Dostoiévski, agora em mostra no Museu Lasar Segall |
Uma mostra agora em cartaz no Museu Lasar Segall, em São Paulo, põe lado a lado algumas dessas tentativas de recriar os escritos do autor na forma de narrativa visual.
Enquanto Segall, que em 1917 ainda vivia na Alemanha, ilustrou "Uma Criatura Dócil" quase só com "ângulos agudos", nas palavras do curador Samuel Titan Jr., Möller respondeu à novela com linhas enxutas, cubistas e figuras quase abstratas.
"Ao lado das gravuras de Segall, muito econômicas, tem o Möller, que a essa altura tinha visto muito os cubistas", diz Titan Jr. "Ele reduz a figura humana a três ou quatro elementos gráficos."
Outro paralelo bastante forte é o que se dá entre as ilustrações de Alfred Kubin e Oswaldo Goeldi, brasileiro que conheceu o amigo alemão durante uma temporada de estudos naquele país.
Goeldi, que nos anos 1940 ilustrou uma série de livros de Dostoiévski, sendo "O Idiota" talvez o mais importante, começou ali muitos de seus estudos de luminosidade, em especial suas cenas soturnas, mergulhadas em sombras e iluminadas por um único e fraco foco de luz.
"Tem momentos do Kubin em que ele faz um desenho mais sujo, a figura humana sempre a ponto de dissolução no espaço", observa o curador. "Esse aspecto rabiscado também está no Goeldi, e os dois gostavam de retratar a luz de relance, sóis que entram por frestas na janela."
NOITES BRANCAS: DOSTOIÉVSKI ILUSTRADO
QUANDO 11h às 19h; fecha às terças
ONDE Museu Lasar Segall (r. Berta, 111, tel. 0/xx/11/2159-0400)
QUANTO grátis