Folha de S. Paulo


Foto de Damien Hirst com cabeça de cadáver causa polêmica no Reino Unido

Uma fotografia em que o artista britânico Damien Hirst aparece rindo ao lado de uma cabeça decepada vem causando polêmica no Reino Unido.

"With Dead Head" é uma obra do artista que só se tornou obra em 1991, quando Hirst decidiu expor a imagem em que ele, aos 16 anos, gargalha ao lado da cabeça de um homem num mortuário em Leeds, no Reino Unido.

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Naquele mesmo ano, Hirst criou a que talvez seja sua obra mais célebre, "The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living", seu tubarão num tanque de formol.

Dois arqueólogos da Universidade Leicester pediram a remoção da fotografia de uma exposição agora em cartaz na New Art Gallery Walsall, alegando que a obra vai contra o tratamento ético dos mortos, já que a cabeça do homem pode ser reconhecida por seus parentes.

André Morin-Le-Jeune © Damien Hirst and Science Ltd.
O artista britânico Damien Hirst com cabeça de cadáver em fotografia de 1991
O artista britânico Damien Hirst com cabeça de cadáver em fotografia de 1991

Em artigo que chamou de "Não perca a cabeça por Hirst", Jonathan Jones, renomado crítico do jornal "The Guardian", chamou de ataque "sentimental" e comportamento de "pomposidade acadêmica" a postura dos arqueólogos Matthew Beamish e Sarah Tarlow de Leicester.

Jones é conhecido por seus ataques ácidos contra Hirst, que considera "sem talento" e que "nunca fez nada que valesse a pena", mas defende as obras do início da carreira do artista e, neste caso, a liberdade de expressão no Reino Unido.

"Só em regimes autoritários professores universitários podem decidir o que pode ou não ser mostrado numa galeria de arte", escreveu o crítico.

"Desde quando nos tornamos uma sociedade autoritária e ninguém me avisou? Até Damien Hirst merece liberdade artística, e essa imagem vai ao cerne de seus trabalhos mais ambiciosos. Discordo dos arqueólogos que acham que essa obra só seja defendida no meio artístico por causa do fanatismo em torno de Hirst. É uma obra de substância --mostra um encontro pungente entre vida e morte."


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