Folha de S. Paulo


Diretor faz versão pornô de 'O Homem de Aço' e vira ídolo com paródias

Superman mata uma vilã em um acidente e, com a consciência culpada, desiste de seus poderes. Ele, então, volta para Smallville, onde tem uma noite de sexo com sua paixão de juventude, Lana Lang. Enquanto isso, Lex Luthor envia Banshee e Bizarro para capturar o herói, mas algo sai errado e o caos se alastra em Metrópolis. Para impedir o desastre completo, Clark Kent vai para a Fortaleza da Solidão, no Ártico, onde encontra um uniforme negro, recupera a força e tem um encontro sexual com a heroína Zatanna.

Apesar de toda a "ação", o roteiro não é de "O Homem de Aço", reinvenção do Superman pelas mãos de Zack Snyder ("300"), que estreia hoje nos cinemas brasileiros. Mas a trama repleta de referências nerds é de "Man of Steel XXX", uma paródia pornô lançada em DVD nesta semana nos Estados Unidos --a cópia digital foi disponibilizada no mesmo dia do lançamento do filme de US$ 225 milhões nos cinemas americanos.

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A versão erótica estrelada por Ryan Driller (algo como Renato Brocador) no papel de Superman foi lançada em DVD nesta semana e faz parte da série de paródias de alto orçamento (para o gênero, pelo menos) da Vivid, a produtora mais poderosa da indústria erótica americana. AVivid Super-heroes foi criada para abrigar os filmes criados pelo diretor Axel Braun, 46, um fanático por gibis e cultura pop que mudou a indústria de filmes adultos ao se preocupar menos com o sexo e mais com detalhes de uniformes dos heróis, tramas baseadas em clássicos das HQs e outras nerdices.

"Meu pai [Lasse Braun, um dos mais conhecidos diretores eróticos europeus da história, tendo inclusive exibido dois filmes em Cannes] era amigo do distribuidor italiano da Marvel e DC, então tenho uma vasta coleção de revistas, a maioria duplicada. Uma para ler e outra para guardar", conta Braun à Folha.

Ele acha que o sexo é a parte "menos importante" de seus filmes, tanto que passa o comando das cenas de "ação" para o diretor de fotografia Eli Cross e exige que todos DVDs de suas produções venham com a versão "limpa" -sem sexo, com cerca de 30 minutos a menos. Braun também se preocupa em ter os uniformes mais fiéis possíveis aos quadrinhos (ou ao material original), tramas que fãs adorariam ver no cinema de verdade e atores parecidos com os personagens nos quais se baseiam.

"As pessoas que não compram pornô são meu alvo. Não há muito consumidores que ainda compram DVDs, porque podem ver online, mas há milhões de fãs de super-heróis", explica Braun, que gastou dez vezes o orçamento de uma produção erótica comum para conceber "Man of Steel XXX" --ele se gaba de que um uniforme de seu filme custa mais que um vídeo pornô inteiro de outras produtoras.

Vídeo

A ousadia deu certo. Apesar de não falar de orçamento --estima-se que cada uma de suas paródias custem US$ 1,5 milhão--, Braun é dono do recorde de pornô mais vendido da história ("Star Wars XXX") e alugado de 2011 ("Batman XXX"). Cada um de seus longas (ainda há "Avengers XXX" com Os Vingadores, "The Dark Knight XXX", paródia do Batman de Christopher Nolan, e "Iron Man XXX", do Homem de Ferro) chega a vender 80 mil cópias físicas nos Estados Unidos, enquanto um título pornográfico comum costuma girar em torno de mil cópias vendidas.

Apesar do sucesso e da clara referência a filmes existentes, Braun garante que nunca foi processado ou procurando por advogados de grandes estúdios. Mas antes de pensar em fazer o mesmo no Brasil, é bom saber que, nos Estados Unidos, as paródias são protegidas por lei.

ÍDOLO NERD

Braun nasceu em Milão e estudou cinema no país natal e em Los Angeles, onde mora desde 1990. "Eu nasci amaldiçoado", brinca o "cineasta", que foi escolhido o melhor diretor pornô por três anos seguidos no AVN Awards, o Oscar do vídeo erótico. "A melhor escola que eu tive foi estar ao lado do meu pai, que começou a produzir e dirigir filmes adultos em 1961."

Apesar do fanatismo por filmes como "Star Wars" e quadrinhos de super-heróis, ele não pensa em dirigir fora do mercado pornográfico. Talvez esteja resignado, contente com o sucesso de sua linha de paródias, mas realista em relação aos limites de sua arte. "Eu sou feliz fazendo o que faço e sou uma pessoa muito ocupada. Por enquanto, não me vejo produzindo algo diferente", ressalta.

De qualquer maneira, Axel Braun conseguiu ultrapassar as fronteiras entre o "maldito" mundo do pornô e o bilionário mundo das adaptações de quadrinhos para o cinema ou TV. Ao divulgar a primeira imagem de "Wonder Woman XXX", seu próximo filme, Braun deixou a internet em polvorosa, com fãs comparando o uniforme (e as curvas) da atriz Kimberly Kane como a Mulher-Maravilha com a da heroína que seria interpretada por Adrianne Palick ("Friday Night Lights") na série produzida por David E. Kelley ("Ally McBeal"), que nunca foi ao ar.

O "Egostatic" falou que o visual era "muito melhor que aquela porcaria comprada em loja de fantasia de David E. Kelley". O site de cinema "Ain´t It Cool News" publicou a foto e mandou um: "Kimberly Kane parece ótima aqui". "Minha equipe de desenho de produção trabalha pesado para criar uniformes e cenários", explica Braun.

A obsessão nerd de Braun é tão grande que ele até mesmo recriou a briga entre Superman (de novo, Driller) e Homem-Aranha (Xander Corvus), um evento que só foi possível em um famoso gibi de 1976. Na capa do DVD, Braun reproduz a capa da revista com fidelidade, trocando os símbolos dos heróis pela letra "X".

"Eu sou um grande fã do Homem-Aranha, então esse é meu filme preferido", confessa o diretor. "Eu honestamente acredito que Xander Corvus é melhor como Peter Parker do que Tobey Maguire ou Andrew Garfield."


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