Folha de S. Paulo


Documentário 'Orgulho de Ser Brasileiro' é atropelado por protestos

O jornalista Adalberto Piotto ouviu políticos, artistas, intelectuais e empresários sobre temas tão amplos como brasilidade, xenofobia, educação e saúde. O resultado está no novo documentário "Orgulho de Ser Brasileiro" (2013).

Ao todo, 16 personalidades se revezam expondo suas opiniões. Fernando Henrique Cardoso trata de herança escravocrata. Marina Silva destaca a biodiversidade. Adib Jatene defende avanços na saúde e na redução da desigualdade. De Nova York, Gerald Thomas diz que gostaria de ser músico de escola de samba. Já Simoninha se preocupa com ostentação.

A voz estridente vem do escritor Ferréz, do Capão Redondo, São Paulo. Ele diz que o Brasil não o trata como brasileiro, que não usufrui das riquezas do país, que faz parte de um país chamado periferia. Tentando fazer um rejunte para esse mosaico, Badi Assad canta o hino nacional no palco de um teatro vazio.

Futebol, samba, natureza, religião: os temas são expostos de forma circular, numa sucessão muitas vezes repetitiva. Outros assuntos são lançados sem polêmica. FHC elogia a gestão da educação tucana em Minas Gerais e ataca a mudança petista no modelo de exploração de petróleo. Ninguém alinhado com o governo federal aparece na tela.

Patrocinado pela Companhia Energética de São Paulo, o longa mostra entrevistas em salas envidraçadas, bibliotecas, escritórios. Nada da rua.

Num palpite infeliz, visto de hoje, o jornalista Carlos Borges opina que só a Copa do Mundo é capaz de comover as massas no Brasil, que nenhuma outra força além do futebol pode colocar os brasileiros numa mesma energia.

Talvez fosse a visão majoritária até a onda de manifestações de junho. Apesar de levantar as recorrentes questões da brasilidade, o documentário parece ter sido atropelado pelos fatos. Faltou ouvir quem estava fora da sala.


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