Folha de S. Paulo


Xico Sá fala sobre jornalismo e mulheres na Casa Folha

O escritor e colunista da Folha Xico Sá fez no final da tarde de hoje, na Casa Folha, na Flip, uma mesa que pareceu um deleite para a plateia, que lotou o espaço, foi participativa e demonstrou muita empatia com o autor.

Tratando da crônica de jornal, Xico falou de suas influências literárias e a velhos truques clássicos a que recorrem cronistas.

"Tem sempre a crônica sobre o nada, sobre a falta de assunto. De Rubem Braga a Antônio Maria, passando por Paulo Mendes Campos, todos os grandes cronistas já se depararam com o vazio."

Segundo ele, os truques vão se acumulando à medida que o cronista vai sendo calejado pelo ofício. "Se falta cinco minutos para entregar e eu não consegui escrever nada, vou à estante, recorro a citações, crio diálogos imagináveis entre livros e autores e uma hora sai".

Reprodução TV Folha
O jornalista da Folha de S.Paulo, Xico Sá
O jornalista da Folha de S.Paulo, Xico Sá

A conversa, com bastante participação da plateia, estendeu os assuntos para a relação do cronista com as mulheres --tema sobre o qual Xico trata quase sempre--, o futebol, a bebida e o jornalismo.

Sobre este último, provocado pelo público, Xico disse estar em uma fase de transição pouco clara e cheia de indefinições.

"Querer saber como será o futuro do jornalismo é adivinhar o que querem as mulheres ou o que querem as manifestações de rua no Brasil. É tudo e é nada, é um exercício de adivinhação".

Ainda assim, o escritor não se esquivou de um palpite. "Acho que o futuro do jornalismo está na grande narrativa, na história bem contada, que seja um misto de reportagem e crônica".

Ele próprio, que como repórter cobriu desde escândalos políticos nos anos Collor a mazelas sociais de toda sorte nas periferias do Brasil nos anos 1990, confessou ainda hoje afiar o olho de repórter em suas crônicas.

"Muitas vezes não basta a observação à distancia. Como repórter, eu sei que a crônica será muito mais embasada se eu, por exemplo, for à rua para compreender as manifestações."

Segundo ele, regra que funciona no convívio com as mulheres. "Entender o que uma mulher deseja demanda um grande trabalho de reportagem", disse arrancando risos da plateia, e emendou: "é o olho do repórter que vai perceber que, mesmo que não seja clara ou diga claramente o que quer, ela soltou pistas a semana inteira e de repente pode ser ir à um passeio, mudar de restaurante. O problema é que somos acomodados. O homem tem orgulho quando o garçom diz 'doutor, o de sempre, né?'. Pois é o de sempre que mata o relacionamento".


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