Folha de S. Paulo


Poetas satíricos fazem público pedir mais na mesa 'Maus Hábitos' em Paraty

Caso houvesse um contador de risadas na Tenda dos Autores, principal espaço de debate da Flip, a mesa "Maus Hábitos", na manhã de hoje, provavelmente seria a campeã desta edição da festa literária.

E isso mesmo tendo sido a primeira mesa do dia, que em geral tem um público bem menor que as da noite.

Mas tem o bom hábito de levantar cedo foi recompensado por um saborosíssimo encontro entre os poetas Zuca Sardan, 79, e Nicolas Behr, 55. A mediação foi do também poeta Chico Alvim, amigo de longa data dos dois palestrantes, o que imprimiu à mesa um clima de camaradagem, quase de encontro de amigo em um boteco. A cerveja não fez falta.

Sardan e Behr são dois dos principais poetas satíricos da atualidade. Seus versos são ricos em invenções verbais, ironia, críticas políticas e referência sexuais.

Também são mestres na difícil arte de ler poesia, e esbanjaram vigor em suas declamações.

Sardan, apontado como o "patrono dos malditos", disparou uma série de poucos curtos e irreverentes, sendo muito aplaudido pelo público.

"A nossa linguagem é de rebeldia, contra as ideias impostas pela sociedade, que queria a poesia como uma espécie de exaltação dos bons costumes. A minha geração era desbundada, era uma geração desbundada, lúdica, alegre", contou.

Behr, que vive em Brasília desde os anos 1970, também foi ovacionado ao fazer críticas aos políticos.

"As pessoas pensam que Brasília é só andar de jatinho pra lá e pra cá, só corrupção. Mas isso vai acabar", afirmou.

Ele apresentou na palestra vários cartazes que faziam referências às manifestações. "A poesia pede passagem grátis", "Atenção quebra-quebra não, poesia em construção", "A revolta do poeta não cabe no cartão", "O Brasil acordou, o poema concordou", "O poeta lido jamais será vencido", diziam alguns deles.

Quando o mediador anunciou o fim, o público lamentou (com gritos de "mais, mais") e aplaudiu de pé por um longo tempo.


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