Folha de S. Paulo


Estou contente de ver o povo protestando, diz Gullar na Casa Folha

"Estou surpreso em ver tanta gente interessada em poesia", contou Ferreira Gullar diante de uma Casa Folha repleta de gente para ouvi-lo falar, na tarde desta sexta (5).

Cerca de duas horas antes do início da palestra em Paraty, o público já se avolumava à espera do poeta e colunista da Folha.

Em quase uma hora de bate-papo, Gullar discorreu, além de poesia e arte em geral, sobre política e corrupção. O jornalista da Folha Paulo Werneck fez a mediação.

As manifestações no Brasil ocuparam grande parte da conversa.

"Eu estou muito contente de ver o povo protestando. Quem lê minhas crônicas na Folha sabe que já falei da indiferença aparente para as coisas inaceitáveis que acontecem no país. Senador processado por corrupção renuncia e não acontece nada com ele", reclamou.

"O povo foi para a rua dizer um basta. O caminho que isso vai tomar eu não sei, mas os resultados são positivos."

Gullar também comentou seu trabalho nas artes plásticas. Disse que pensou em ser pintor quando era garoto. "Depois a poesia invadiu a minha vida, mas continuei fascinado pela pintura. Como não consegui ser pintor, virei crítico de artes plásticas", brincou.

Recentemente ele lançou o livro "Bananas Podres", que trazia colagens, pinturas e desenhos inéditos feitos por ele.

Outra das questões debatidas foi se fazer poesia é algo que pode ser aprendido.

"O cara nasce com a possibilidade, com o talento. Um cara que nasce perna de pau nunca será um Pelé. Na poesia, na pintura, o cara nasce com as qualidades, mas tem que desenvolver. Tem que dominar as técnicas. Você aprende com o que já foi feito e recria da sua maneira."

O poeta também fez críticas a artistas modernos ou pós-modernos que propõem a ruptura com a linguagem.

"Isso é que nem botar o urubu na gaiola e levar para a bienal como se fosse arte. O cara inventou o urubu? Sempre entendi o artista como alguém que domina a linguagem. O poema é uma soma de significações. A significação está na linguagem. Para gerar novas significações, tenho que conhecer a linguagem."

Leticia Moreira/Folhapress
O escritor e poeta Ferreira Gullar
O escritor e poeta Ferreira Gullar

Endereço da página: