Folha de S. Paulo


Protestos crescem e interditam ponte de acesso à Tenda dos Autores da Flip

Protestos iniciados na manhã deste sábado (6) no cais turístico de Paraty (RJ) ganharam força ao longo da tarde e interditaram a ponte que faz o acesso entre o centro histórico e a Tenda dos Autores, o palco principal da Flip, por volta das 16h15, em Paraty (RJ).

Após passarem por algumas ruas do centro histórico, os manifestantes ficaram sobre a ponte com faixas e cartazes por cerca de 15 minutos. Eles protestavam contra as más condições de saúde, educação e seguranda pública, além de temas mais específicos, como a valorização de pequenos barqueiros da cidade. Segundo os manifestantes, os profissionais são vítimas das grandes empresas que promovem passeio turístico na região.

Havia também pequenos grupos pedindo mais livros e leitura ou protestando contra a instalação de um condomínio na região.

Todo o trajeto, incluindo a tomada da ponte, havia sido previamente combinado com a prefeitura, a PM e a Guarda Civil.

A manifestação, formada por grupos como o Fórum das Comunidades de Paraty e o Acorda Paraty, segue rumo à prefeitura da cidade.

A tomada da ponte ocorreu quase no final da mesa dos escritores Laurent Binet e Aleksander Hemon, justamente no momento em que eles elogiavam os protestos.

Durante a interdição, um barco passou no rio com bandeiras de apoio às causas e um manifesto foi lido com várias pautas reivindicatórias, que incluíam a convocação de professores aprovados em um concurso municipal, a valorização dos barqueiros, e causas ambientais, como a construção em áreas de preservação.

Danilo Verpa/Folhapress
Protesto de moradores de Paraty em frente à prefeitura durante a Flip 2013
Protesto de moradores de Paraty em frente à prefeitura durante a Flip 2013

PREFEITURA

De acordo com Sandro Ferrero, secretário de Comunicação da prefeitura de Paraty, o prefeito Carlos José Gama Miranda, o Casé (PT), se prontificou a conversar com os líderes do movimentos para receber o manifesto.

"Nós somos uma prefeitura do PT. Se o prefeito não encontrasse com os manifestantes, seria como virar as costas para as origens do próprio partido. Ele está disposto não apenas a receber, mas também a conversar com os representantes do protesto."

Por volta das 16h30, os protestos chegaram à sede do governo municipal. A prefeitura diz que os manifestantes foram até a porta e o prefeito se propôs a receber os líderes no gabinete. Os manifestantes disseram que não tinham líder e que Miranda tinha que descer para falar com todos. Ele se recusou e não falou com ninguém.

Com isso, os participantes dos protestos ficaram gritando "vergonha, vergonha" na frente da prefeitura e voltaram para o centro histórico

MANHÃ

"Eu já falei / vou repetir / hoje turista não passa aqui". Foi com este e outros gritos de protesto que os turistas foram recebidos no cais de Paraty (RJ) na manhã deste sábado (6).

Uma manifestação organizada por pouco menos de uma centena de barqueiros da cidade, que vivem dos passeios turísticos e reclamam da concorrência desleal das escunas de grande porte, impediu que os visitantes embarcassem para os tradicionais tours pelas ilhas e arredores da cidade.

"Quem comprou passagem, volte para a pousada e peça seu dinheiro de volta", gritava um dos líderes, em português e inglês. Os cartazes traziam dizeres como "as escunas estão sufocando os caiçaras", "fiscaliza o cais já" e "não ao turismo predatório".

"Pousada não é agência, não pode vender passeio turístico. Estão cobrando preço de banana só para lotar os restaurantes [das ilhas]", afirmou outros dos pescadores, que reclamava ainda da conivência da prefeitura local, que teria permitido "a entrada de grandes embarcações, para até 220 passageiros", contrariando a legislação local, que limita o número máximo de passageiros a 100 pessoas.

"Algumas escunas não valorizam os caiçaras, até o peixe servido vem do Vietnã", dizia o cartaz de um dos manifestantes.

Zanone Fraissat/Folhapress
Associação dos barqueiros de Paraty faz manifestação no cais da cidade durante a Flip
Associação dos barqueiros de Paraty faz manifestação no cais da cidade durante a Flip

Uma das turistas afetadas pelo bloqueio do cais foi a professora Cristina Pereira, 49, do Guarujá (SP). Ela veio para sua terceira Flip acompanhada da mãe e de uma amiga, e comprou em sua pousada um passeio de escuna, a R$ 30 por pessoa (quatro horas de passeio, com paradas).

"Já tinha feito o passeio, é apaixonante, queria que elas fizessem. Mas chegamos aqui, começamos a ouvir o que eles reclamavam e vimos que tinham razão", disse Pereira.

Convertida à causa dos manifestantes, ela se juntou ao protesto, com um cartaz feito na hora, que dizia "Foi o melhor não passeio que eu já fiz! O turista apoia o protesto".

A manifestação foi vigiada à distância por cerca de dez policiais, em quatro viaturas. "Queremos policiamento todos os dias, não só hoje", gritou um dos manifestantes.

"Estamos pedindo segurança no cais, ele está podre, caindo, não tem manutenção. Queremos iluminação e câmeras."

Outros grupos, com causas diversas --como o Fórum das Comunidades de Paraty e o Acorda Paraty--juntaram-se ao protesto durante a manhã. Os manifestantes devem sair em caminhada pelo centro histórico da cidade, rumo à prefeitura, a partir das 13h.
No caminho, prometem interditar a ponte que liga os dois lados da cidade e que dá acesso à Tenda dos Autores, onde acontecem as principais palestras da Flip.


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