Folha de S. Paulo


'Rio voltou a ser protagonista', diz Ruy Castro na Casa Folha

A volta do Rio ao papel de protagonista da vida nacional foi o tema da conversa que o escritor Ruy Castro teve com o público na Casa Folha, na manhã desta quinta (4), em Paraty (RJ).

"Depois de muitos anos de depressão, o Rio está voltando a ser aquilo que sempre foi na história do Brasil: uma cidade protagonista em tudo que se refere à vida nacional", disse o autor e colunista da Folha.

"É uma cidade que lança os movimentos, que cria as modas que depois serão adotadas no resto do país e também voltou a ser uma cidade onde decisões importantes são tomadas, até por conta da recuperação da economia."

Segundo Ruy, a decadência econômica carioca começou após a transferência da capital federal para Brasília, ainda que a saída dos políticos não tenha sido lamentada pelos cariocas.

"O Rio, ao contrário do que as pessoas pensam, adorou que a capital fosse tirada dali. O poder é um péssimo hóspede, usa a cidade como um capacho, à sua revelia. O Rio foi a capital do pais por quase 400 anos e, nesse período, foi destruído e reconstruído diversas vezes."

Bem-humorado, Ruy também questionou alguns estereótipos associados à capital carioca e provocou os cidadãos de São Paulo.

"Toda cidade gera ideias feitas, nem sempre condizentes com a realidade. O Rio, por exemplo, tem a fama de ser uma cidade onde ninguém trabalha, onde as pessoas só ficam na praia", disse, antes de ler um trecho de sua crônica "Na Praia, a Trabalho", parte de seu livro mais tecente, "Morrer de Prazer".

Nela, aponta para uma amiga turista, espantada com a praia cheia na tarde de um dia útil, a quantidade de trabalhadores que estavam mobilizados ali: barraqueiros, sorveteiros, vendedores de todo tipo a serviço dos muitos turistas --"a maioria deles, paulistas", disse o autor, para riso da plateia.

Ruy falou sobre como o estilo carioca contamina mesmo seus moradores estrangeiros, fazendo piada com a célebre impontualidade dos locais. "Não há possibilidade de o carioca virar um suíço, mas é perfeitamente possível transformar o suíço em um carioca."

Outra característica da cidade destacada durante a conversa foi seu caráter cosmopolita e gregário, o que faz com que ela não tenha bairros específicos para certas comunidades estrangeiras --chineses, italianos, árabes, japoneses--, como acontece em outras grandes metrópoles.

"No Rio, todos os bairros são de cariocas. Parece que quando a pessoa chega à cidade, ela deixa para trás todo seu passado. Há uma fusão, todo mundo deixa de ser o que era para se tornar carioca. Isso é o verdadeiro cosmopolitismo."

Mineiro de Caratinga, o escritor é um dos "legítimos cariocas que nasceram em outra cidade", como ele disse em relação a vários amigos que adotaram e foram adotados pelo Rio. Mesmo tendo morado três anos em Portugal e 16 em São Paulo --"a trabalho", como fez questão de frisar--, Ruy disse nunca ter perdido contato com sua cidade preferida. Questionado se haveria algo de que não gosta no Rio, foi sucinto: "Ficar longe dele".


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