Folha de S. Paulo


Crítica: Espetáculo 'Retrato Calado' amplifica o terror da tortura com vídeos e música

"Retrato Calado" é um espetáculo em construção. Com direção de José Fernando de Azevedo, baseia-se no livro homônimo de Luiz Roberto Salinas Fortes sobre as torturas que suportou durante a ditadura.

No palco, monitores de televisão e mesas de mixagem. Uma jaula faz analogia às prisões do regime totalitário. Nas paredes transparentes são projetadas imagens dos atores e filmes. O projeto multimídia tem música ao vivo, o que contribui para um ambiente de desespero e repressão.

Lenise Pinheiro/Folhapress
O ator Victor Placca em cena da peça 'Retrato Calado'
O ator Victor Placca em cena da peça 'Retrato Calado'

Assim, o sofrimento físico e psicológico é traduzido numa experiência sensorial que faz o público experimentar o terror da tortura.

Teth Maiello inicia lendo o diário de Salinas, introduzindo o medo e a morte. Depois, Vitor Placca interpreta um interrogatório. Para traduzir o vexame, o diretor senta no chão e obriga o ator a mudar a forma de atuação com um estalar de dedos. Música estridente e imagens do ator coagido em close dramatizam a pressão.

Quando às palavras é acrescentada a projeção de um filme sobre o nazismo, sentimentos de culpa ganham sentido amplo. O desconforto cresce quando Placca e Renan Trindade executam o texto em alta velocidade.

A importância da voz de Salinas no combate ao esquecimento evidencia-se na impressão forte que deixam as imagens de manifestações da época, projetadas quando Maiello fala sobre anistia.

O impactante projeto mostra que o fim da autocracia depende também da memória dela, fazendo senti-la na pele.

RETRATO CALADO
QUANDO sáb., 21h; dom., 17h
ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000; tel. 0/xx/11/2076-9700)
QUANTO R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


Endereço da página: