Folha de S. Paulo


Crítica: Peça com Maitê Proença retrata velhice com humor e delicadeza

A velhice é cada vez mais tema de filmes e espetáculos. "À Beira do Abismo me Cresceram Asas", que resultou de entrevistas realizadas por Fernando Duarte com idosos em asilos pelo Brasil afora, traduz com delicadeza essa inquietação. Revoga estereótipos e sensibiliza o público de forma bem-humorada para assuntos tão diversos como sexualidade e solidão.

Dividindo a direção com Clarice Niskier, Maitê Proença faz o papel da anciã Terezinha, rabugenta, porém charmosa. Contracena com Clarisse Derzié Luz, a velhinha Valdina, que perdeu toda sua família sem abrir mão do alto astral.

Seus diferentes temperamentos demonstram formas díspares de lidar com a idade e se complementam. Terezinha, abandonada pela família, aprende com a amiga a aceitar seu destino. Valdina fofoca para esquecer o seu.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Maitê Proença vive Terezinha em cena da peça
Maitê Proença vive Terezinha em cena da peça "À Beira do Abismo Me Cresceram Asas"

Quando o público entra, as atrizes já estão em cena. Atrás de paredes transparentes que podem ser movimentadas, elas se preparam em frente a duas mesas de camarim, ao lado de araras com os figurinos (Beth Filipecki).

Vestida de cores pastel, Proença é a mais sensível e abalada, mas até sabe flertar e revelar seu lado mais sonhador e menina. Clarisse Derzié Luz, vestida de cores fortes, é a mais animada, adora falar de sexo e das boas lembranças que a vida lhe trouxe. Sua interpretação garante o ritmo e a energia da montagem.

O cenário (Cristina Novaes) sublinha a leveza e o caráter lúdico da peça. Oferece o espaço adequado para as atrizes mostrarem as frustrações e perdas que vêm com a velhice, junto com as memórias felizes e as tentativas de ainda usufruir da vida.

A dramaturgia logra revelar em quatro partes as facetas das personagens, sem sentimentalismo. A música (Alessandro Perssan) e a luz (Jorginho de Carvalho) colaboram neste sentido.

Nelson Gonçalves, Edith Piaf, Richard Wagner, entre outros, fazem parte de uma trilha sonora que cria um ambiente exterior ou reflete o interior das personagens.

A festa de aniversário de Terezinha, com destaque para um gracioso número de dança de Valdina, encerra com poesia um espetáculo cativante.

À BEIRA DO ABISMO ME CRESCERAM ASAS
QUANDO sex. e sáb., 21h; dom., 18h
ONDE Teatro Faap (r. Alagoas, 903, tel. 0/xx/11/3662-7233)
QUANTO R$ 70 (sex. e dom.) e R$ 80 (sáb.)
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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