Folha de S. Paulo


Diretores de teatro tentam ecoar protestos e pedem participação do público

O autor e diretor Marcelo Fonseca se inspirou nas manifestações políticas que sacodem o país para trazer de volta "Todos os Homens Notáveis". O texto criado em 2002 por ele, fundador da Cia. Teatro do Incêndio, conta a história de uma população que se mobiliza contra o sistema.

"Acho importante compartilhar o debate político também de forma artística", diz ele, que inaugurou a sede de seu grupo em maio com "Baal", de Bertolt Brecht, ainda em cartaz.

Fonseca faz uma leitura cênica de "Todos os Homens Notáveis" na próxima quarta (3), em seu teatro. Convida a população para interpretar em cena o mesmo papel que tem desempenhado nas ruas.

"Estamos convocando quem quiser participar a atuar como parte do coro de manifestantes, que integra a trama", diz. A estreia está prevista meados de julho, segundo o autor, que promete fazer sua obra dialogar ainda mais com a atualidade. Planeja mexer no texto diariamente, transpondo ao enredo acontecimentos frescos vividos pela população brasileira.

Fonseca não é o único que usa seu teatro em busca de uma ampliação do movimento em prol das reformas políticas que tomaram as ruas do Brasil. O diretor José Celso Martinez Corrêa se mobiliza na mesma direção. "Nós também quisemos nos manifestar", diz o criador do Teatro Oficina à Folha.

Zé Celso planeja reunir a classe teatral em uma passeata, prevista para o início de julho, que deve sair do Teatro Oficina, no Bexiga, e avançar até o gabinete regional da Presidência da República na avenida Paulista.

Claire Jean/Divulgação
Cena de
Cena de "Acordes", dirigido por Zé Celso, no Teatro Oficina

O líder do Oficina também usa sua criação para ampliar o coro das passeatas. Reapresenta somente neste final de semana (29 e 30) a peça "Acordes", adaptação de "A Peça Didática de Baden-Baden sobre o Acordo", obra de cunho político Bertolt Brecht, que estreou no ano passado e, por problemas de dinheiro, ficou apenas cerca de três meses em cartaz.

"É preciso procurar novas formas de relação com a política", afirma Zé Celso.

A obra de Brecht que deu origem ao espetáculo critica o capitalismo e é emblemática na trajetória do Oficina. Inspira o Estatuto de Fundação da Associação de Artistas Teatro Oficina Uzyna Uzona, criado em 1984. O artigo 29 do documento é projetado numa tela que ocupa a cena revelando a "lei fundamental do grupo": a transformação.

A plateia é protagonista de "Acordes", atuando como coro da multidão. Na peça, nega auxílio a aviadores, que sofrem uma queda. "O avião que cai é a ordem capitalista em decadência. Com ele surgem valores diferentes e a possibilidade de novos voos, iniciando o caminho para a construção de um outro mundo. A revolução está em nós mesmos, na capacidade e no trabalho de cada um", afirma Zé Celso.

LEITURA DE "TODOS OS HOMENS NOTÀVEIS
ONDE Teatro do Incêndio (rua Santo Antônio, 723, tel. 0/xx/11/3107-2578)
QUANDO quarta (4), às 20h
QUANTO gratuito
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA livre

"ACORDES"
ONDE Teatro Oficina (rua Jaceguai, 520, tel. 0/xx/11/3106-2818)
QUANDO sábado (29) e domingo (30), às 18h
QUANTO R$ 3
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA 14 anos


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