Folha de S. Paulo


Aumento de aluguel faz Cine Lumière, no Itaim, fechar as portas nesta quinta

A exibição da comédia romântica francesa "A Datilógrafa" nesta quinta (20), às 20h45, será, pelo menos por ora, a última sessão de cinema do Playarte Lumière, tradicional cinema de rua do bairro Itaim Bibi (zona oeste de São Paulo) --que um dia se chamou Cine Star, noutro Cine Lumière e mais adiante, Cine UOL Lumière.

As duas salas do Lumière são parte de um processo que se acentuou nos últimos anos no país: o fechamento de cinemas de rua. Segundo a Ancine (Agência Nacional do Cinema), o número de salas em shopping centers cresceu 27% entre 2009 e 2012 (de 1.712 para 2.177), enquanto o de cinemas de rua caiu 14,6% no mesmo período (de 398 para 340).

As razões são, geralmente, as mesmas: com a ascendente expansão imobiliária, o aumento do valor do aluguel dos espaços inviabiliza a manutenção das salas de cinema, cada vez menos competitivas em relação aos multiplexes (com mais opções em cartaz e estruturas mais modernas). Em seus lugares, surgem principalmente lojas e igrejas.

O caso mais recente e emblemático ocorreu com o Cine Belas Artes, na rua da Consolação, região central de São Paulo. Após uma série de reivindicações de antigos frequentadores e organizações não governamentais e disputas judiciais, o prédio teve a fachada tombada pelo Condephaat (órgão estadual de defesa do patrimônio) em 15 de outubro.

Mas a medida, que dificulta a transformação do local num espaço comercial (como deseja o proprietário) ainda não resultou na reabertura do espaço, fechado desde março de 2011. O proprietário e o administrador do cinema ainda discutem o destino do espaço.

No caso do Playarte Lumière, a renovação do aluguel (feita a cada cinco anos) representaria um reajuste de mais de 100% do valor pago pela ocupação do espaço.

"[Mesmo com deficit nos últimos três anos], mantivemos o cinema por respeito ao público que sempre tivemos ali, que era fiel ao cinema. Mas infelizmente o aumento absurdo do valor do aluguel tornou a operação inviável", afirmou Otelo Betin Coltro, vice-presidente do grupo PlayArte, que administra a sala desde meados de 1996.

Os donos do imóvel não foram localizados para comentar a não renovação do contrato.

E DAÍ?

"E daí que vai fechar? Não temos que nos posicionar sobre esse fechamento. Ele não é importante como o Belas Artes", afirmou Marcelo Motta, presidente da Sociedade Amigos do Itaim Bibi. Segundo ele, o foco da associação é "urbano, e não cultural".

O cinema que fecha hoje surgiu nos anos 1950 como Cine Star pelas mãos de Dulce Borges Barreiros, que ficou conhecida pelo título de "rainha do volante", após vencer com seu Buick um campeonato automobilístico em 1927.

Em meados de 1996, as salas foram compradas pelo grupo PlayArte como parte do chamado Circuito Sul, com cerca de 40 salas em São Paulo (desde os tradicionais Bristol e Liberty, no shopping Center 3, até as modernas salas dos shoppings Paulista e Iguatemi.

Em 2006, o local recebeu uma reforma projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake (responsável pela restauração de outros famosos cinemas de rua, como o Cine Marabá, no centro de São Paulo). Um ano depois, a sala foi batizada Cine UOL Lumière (nome do cinema até agosto de 2010, quando passou a se chamar PlayArte Lumière).


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