Folha de S. Paulo


Crítica: Em disco "13", Black Sabbath faz cópia fiel de seu passado

"Isto é o fim do começo ou o começo do fim?", pergunta Ozzy Osbourne no primeiro verso de "End of the Beginning", faixa que abre "13", novo álbum da banda pesada inglesa Black Sabbath.

Neste caso, é difícil falar em começo ou fim. Primeiro disco de músicas inéditas da banda desde "Forbidden", de 1995, "13" tenta deliberadamente fazer uma conexão com os álbuns da primeira --e áurea-- fase do Black Sabbath, de 1970 a 1975.

E, dentro do possível, consegue cumprir a proposta. O público aprovou, levando "13" ao primeiro lugar da parada inglesa. A última vez que a banda tinha conseguido esse feito foi em 1970, com seu segundo e mais celebrado álbum, "Paranoid".

Steve C. Mitchell/Invision/AP
Ozzy Osbourne durante show do Black Sabbath em Chicago
Ozzy Osbourne durante show do Black Sabbath em Chicago

Assim, passa a ser do Sabbath o maior intervalo entre discos de um mesmo artista que alcançaram o topo da parada britânica --43 anos.

Embora sem o frescor dos discos clássicos do grupo, "13" poderia ter sido lançado em 1972 ou 1973. Todo o figurino que definiu o som do Sabbath --e do heavy metal-- está presente nas oito faixas do álbum, que ganha três músicas no CD bônus encartado na edição "deluxe".

Voltam a bateria pesada, a guitarra trabalhando na escala dos sons mais graves, as longas introduções instrumentais antes de entrar o vocal e, lógico, a personalíssima voz estridente de Ozzy.

Os 64 anos do cantor, vividos no limite dos excessos químicos e alcoólicos, equivalem a uns 80 anos de uma pessoa "normal". Mas os recursos tecnológicos de gravação deixam seu registro vocal no disco bem próximo do que ele conseguia naturalmente há mais de quatro décadas.

Mesmo com a voz de Ozzy restaurada, a moldura musical intacta e as letras do baixista Geezer Butler ainda tratando a vida como um poço de depressão, falta algo para "13" soar poderoso.

Duas causas podem ser identificadas. O disco não alcança o mesmo som sujo de "Paranoid" ou "Master of Reality" (1971). Por mais que se tente repetir em estúdio as condições de gravação de épocas passadas, a reprodução "vintage" não emplaca.

O outro problema é inexorável. O tempo passou, e fica difícil acreditar nos discursos filosóficos e satanistas desses senhores sessentões --Butler tem 63 anos, e o guitarrista Tony Iommi, 65.

O único integrante da formação original que não toca em "13" é o baterista Bill Ward, 65, furioso porque iria receber menos dinheiro do que os colegas. Quem segurou as baquetas nas gravações foi Brad Wilk, 44, do Rage Against the Machine.

Não é apenas a idade que incomoda, mas a mudança de comportamento. Eles sossegaram.

Nos anos 1970, os fãs realmente acreditavam que Ozzy era capaz de arrancar a cabeça de um morcego com uma mordida. Hoje, já sabem, por seu reality show, que ele é um tiozão que nem consegue controlar seus cachorrinhos.

Por isso, pode ser rejuvenescedora para Ozzy sua volta ao Sabbath, do qual foi expulso há 35 anos, para depois só retornar em shows e turnês pontuais. No palco, como se sabe por sua carreira solo, ele nunca nega fogo.

A excursão mundial para divulgar "13" passa pelo Brasil em outubro. As boas canções do novo álbum não devem fazer feio misturadas a hinos do rock como "Iron Man" e "War Pigs".

"Eu não quero viver para sempre/Posso estar sonhando/Mas, de qualquer jeito, vivo dentro de uma mentira", canta Ozzy em "Live Forever". A "mentira" chamada Black Sabbath tem milhões de fãs.

13
ARTISTA Black Sabbath
GRAVADORA Universal
QUANTO R$ 35 (deluxe edition) e R$ 28 (edição normal)
AVALIAÇÃO bom

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TURNÊ BRASILEIRA

O Black Sabbath faz três shows no Brasil em outubro. A turnê começa no dia 9, em Porto Alegre, na Fiergs. No dia 11, o show será em São Paulo, no Campo de Marte (ingressos esgotados). A última apresentação está marcada para o dia 13, no Rio, na Praça da Apoteose. Bilhetes (de R$ 200 a R$ 600) à venda no site www.ticketsforfun.com.br.


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