Tatiana Belinky, figura ímpar na literatura infantil brasileira. Celebração sem tempo verbal: a sobrevivência do artista dispensa as dolorosas marcas da oposição passado / presente, que costuma separar os vivos dos mortos. Artista não morre nunca. Vive para sempre nas suas obras.
Meio alheia aos percursos institucionais dos livros para crianças, a obra de Tatiana Belinky impôs-se tanto para o público quanto para a crítica pela alta qualidade, que vinca seus textos com marcas muito especiais.
Ecoam particularmente em seus livros algumas das mais fortes tradições do gênero infantil: o humor e a musicalidade.
Primeira voz a difundir, por terras verde-amarelas, como tradutora, limericks, Tatiana a partir dos anos oitenta do século 20, marcou sua produção literária, pelo abrasileiramento do tom poético do tradicional gênero inglês, marcado pelos versos curtos e pelo humor.
No conjunto de sua obra, suas raízes russas e judaicas também se fizeram importantes na construção de suas muitas e belas histórias, muitas vezes recontadas a partir destas matrizes culturais.
Figuras fantásticas, camponeses, cenários ora rurais ora urbanos, envolventes enredos sentimentais, discussões de fundo ético temperadas de humor são a espinha dorsal de seus livros.
Na atual voga de vampiros e similares criaturas, ganham especial atualidade seus versos de um quase t 'esconjuro: "Vampiros dentuços,/ Viscosos e ruços,/ Querendo assustar / A você e a mim;/ () / Porque meu segredo / É nunca ter medo - / São eles que tremem / Com medo de mim!"
Chegando a quase uma centena de títulos, espalhados por diversas editoras, a obra de Tatiana Belinky cumpre a função maior da literatura para qualquer idade: a fantasia, o reforço da identidade e a solidariedade com o diferente como tão bem ilustram seus versos que proclamam (com muita razão!): "Tudo é humano, /Bem diferente / Assim, assado / todos são gente /Cada um na sua / E não faz mal / Di-ver-si-da-de / É que é legal."
MARISA LAJOLO é professora de literatura e autora de diversos livros, como "O Poeta do Exílio" (ed. FTD)