Folha de S. Paulo


Espetáculo mexicano "Amarillo" mistura teatro, dança e videoarte em SP

Destaque da segunda e última edição do Mirada - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, realizado no ano passado, "Amarillo" volta ao país. O espetáculo de raro vigor criado pela cia. mexicana Teatro Línea de Sombra apresenta-se este final de semana em São Paulo.

"Amarillo" reinventa o teatro político que norteia a cena latino-americana da última metade do século. O discurso engajado sai do centro do palco deixando lugar para uma arte de cunho eminentemente poético. "Não somos ativistas, antes de tudo somos artistas", frisa Jorge A. Vargas, diretor e fundador do grupo. "Não almejamos fazer teatro político, mas uma arte que gere pensamento crítico, criada a partir do contexto em que está inserida", complementa.

O espetáculo interpreta liricamente o drama vivido por mexicanos que, em busca de melhores condições de vida, cruzam a fronteira dos Estados Unidos ilegalmente. Amarillo é o nome de um povoado do México situado na divisa entre o país e os EUA. Também significa amarelo em espanhol, cor do sol intenso do deserto que é cruzado na travessia.

Teatro, documentário, dança, videoarte, música, artes visuais e performance se articulam em "Amarillo" sob a forma de uma instalação artística.

"Não tínhamos pretensão de criar impacto visual ou inovação. A multidisciplinaridade artística surgiu de forma natural, no processo de criação, enquanto buscávamos linguagens que pudessem se atravessar umas nas outras, gerando conflito", afirma Vargas. Ele conta que o uso de vídeo, por exemplo, surgiu para "evocar as câmeras de vigilância que tudo veem".

Vargas atribui carga poética a objetos como galões de água, mochilas e areia, parte da travessia dos andarilhos no deserto mexicano. "Buscamos criar metáforas com objetos destituídos de valor. Criamos em cena signos ambíguos para serem elaborados pelos espectadores", explica ele.

A atmosfera é de alucinação. "Nossa intenção era gerar um delírio visual semelhante ao vivido pelo imigrante desidratado e com fome", conta o diretor.

Vargas e o dramaturgo Gabriel Contreras fundaram o Teatro Línea de Sombra em 1993. No início, se dedicaram a teatro físico, de rua, mímica e clown. Nos últimos tempos experimentam a multidisciplinaridade artística e se tornaram um dos grupos mais relevantes da cena latino-americana.

AMARILLO
ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia 93, tel. 0/xx/11/3871-7700)
QUANDO sábado (1º/6), às 21h, e domingo (2/6), às 19h
QUANTO de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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