Folha de S. Paulo


Produtora recorre a fãs do Sepultura para bancar filme

Era início dos anos 1980. Um grupo de adolescentes, assim como tantos outros, fazia seu som enquanto sonhava em viver de música. Mas nada de rock ou MPB. O negócio deles era heavy metal.

Os ensaios ocorriam em Belo Horizonte, na casa dos pais do baixista Paulo Jr. -único da formação original que ainda está no Sepultura, hoje com Derrick Green, Andreas Kisser e Eloy Casagrande.

Um dia, a vizinha Solange Borges, cantora e irmã de Lô Borges, não aguentou e foi até o QG daqueles rapazotes para afinar a guitarra. Afinal, se era para fazer tanto barulho, que ao menos os instrumentos estivessem tinindo.

Divulgação
A banda de metal brasileira Sepultura
A banda de metal brasileira Sepultura

O episódio "tragicômico" foi relembrado, aos risos, por Paulo, em depoimento a Otávio Juliano, diretor do documentário "Sepultura". O filme vai passar a limpo os 30 anos da banda, a serem completados em 2014.

Sua estreia está prevista justamente para o ano que vem, por causa da efeméride. Com a produtora executiva Luciana Ferraz, sua sócia na InterFace Filmes, Juliano acompanha a banda há três anos, inclusive em turnês internacionais.

Desde 2010, o filme foi autorizado a captar R$ 700 mil via leis de incentivo estadual e federal, mas nenhum patrocinador demonstrou interesse no projeto até agora.

Para o guitarrista Andreas Kisser, isso se deve ao "preconceito". "Muitas empresas veem o heavy metal como algo agressivo. É difícil de engolir que, em pleno 2013, a banda ainda não tenha reconhecimento no Brasil", disse.

ARRECADAÇÃO

O diretor garante que o filme vai sair. Até agora, o investimento tem sido da InterFace Filmes. A produtora propôs o registro à banda, que topou participar, sem interferências.

Para ajudar a finalizar o documentário, a InterFace lançou campanha de crowdfunding no Kickstarter, site de financiamento coletivo (kickstarter.com/projects/interfacefilmes/sepultura-official-documentary ).

Até amanhã, os fãs poderão contribuir com qualquer valor, de US$ 2 (R$ 4) a US$ 10 mil (R$ 20 mil) ou mais. Em contrapartida, participarão do projeto de alguma forma.

A meta a ser atingida é de, no mínimo, US$ 100 mil (R$ 200 mil) --até a conclusão desta edição, haviam sido arrecadados pouco mais de US$ 20 mil (R$ 40 mil). Se o piso estipulado não for atingido, os realizadores do filme não receberão nada.

Os amigos da banda estão fazendo a parte deles, tornando-se acessíveis. Já foram entrevistados nomes como Phil Anselmo (ex-Pantera e atual Down) e Scott Ian (Anthrax).

Acompanhada com exclusividade pela Folha, a conversa com Scott ocorreu em São Paulo, na semana passada. "Quando ouvi 'Refuse/Resist' [do álbum 'Chaos A.D.'] pela primeira vez, pensei: 'Esse é o som do fim do mundo'. Foi aí que me tornei fã", diz.

Lances mais polêmicos, como a saída de Max Cavalera do Sepultura, também farão parte do filme. Juliano afirma que está em contato com o ex-integrante e espera que ele aceite falar sobre a banda que fundou com o irmão Iggor.

Kisser acha importante tê-los no longa, mas desmente boatos de uma turnê "reunion" com os ex-colegas de banda: "Isso está fora de cogitação".


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