Folha de S. Paulo


Crítica: De beleza ímpar, filme 'The Immigrant' é ópera sem canto

Não raro, cineastas com boa reputação junto à crítica deitam-se no berço esplêndido da glória autoral e começam a se repetir, tornando-se caricaturas de si mesmos. James Gray tem escapado dessa armadilha brilhantemente.

De todos os seus filmes, "The Immigrant", apresentado ontem na competição em Cannes, é aquele em que o diretor mais se impõe desafios, continuando absolutamente fiel ao seu universo.

Cannes entra em clima de final de festa com "The Immigrant", de James Gray

Esses desafios também se impõem aos olhos do espectador: para quem estava habituado à Nova York contemporânea e aos protagonistas masculinos que dominavam seus trabalhos até agora, "The Immigrant" é um filme "difícil", mas que vai ganhando sentido e beleza ímpares.

Divulgação
Joaquin Phoenix e Marion Cotillard em cena de
Joaquin Phoenix e Marion Cotillard em cena de "The Immigrant", filme de James Gray

A protagonista de Gray é Eva (Marion Cotillard), jovem polonesa que chega a Nova York em 1921. O sonho americano rapidamente mostra suas garras quando a irmã de Eva é detida, com suspeita de tuberculose, e Eva, sozinha, é ameaçada de deportação. Não lhe resta outra opção a não ser aceitar a ajuda de Bruno (Joaquin Phoenix), que a leva à prostituição.

Um triângulo se forma quando entra em cena o mágico Orlando (Jeremy Renner), primo de Bruno.

Aos poucos, percebe-se que "The Immigrant" é mais que um melodrama -é uma ópera sem canto, com duetos e tercetos encenados diante de uma reconstituição de época de teatralidade, acentuada pela inacreditável luz de Darius Khondji ("Amor").

O diretor dá um passo ousado na sua reinvenção do cinema clássico, que aqui evoca de Elia Kazan a Francis Ford Coppola e sua trilogia "O Poderoso Chefão".

"The Immigrant" também apresenta ricas variações em torno das obsessões de Gray, como a ambiguidade do papel da família e o simbolismo de Nova York para os imigrantes que fizeram sua vida ali.

Nesse sentido, "The Immigrant" também é capaz de jogar nova luz sobre os filmes anteriores do cineasta, de "Fuga para Odessa" (1994) a "Amantes" (2008).

THE IMMIGRANT
AVALIAÇÃO bom


Endereço da página:

Links no texto: