Folha de S. Paulo


Cannes entra em clima de final de festa com "The Immigrant", de James Gray

O clima de ontem, penúltimo dia de competição em Cannes, era de fim de feira.

Mesmo com Jim Jarmusch fechando a noite exibindo sua balada vampírica "Only Lovers Left Alive", e o novo de Roman Polanski ("Venus in Furs") marcado para hoje, o festival já vive as expectativas da cerimônia de premiação, que acontecerá amanhã.

Crítica: De beleza ímpar, filme 'The Immigrant' é ópera sem canto

A manhã começou com a apresentação de "The Immigrant", novo filme do americano James Gray ("Amantes"), querido na Croisette --ele já teve quatro longas selecionados para a competição na carreira-- e menosprezado nos Estados Unidos.

Divulgação
Joaquin Phoenix e Marion Cotillard em cena de
Joaquin Phoenix e Marion Cotillard em cena de "The Immigrant", filme de James Gray

O projeto que escreveu com Richard Menello é uma ambiciosa história de amor e moral passada no início da década de 1920.

Marion Cotillard é uma imigrante polonesa que precisa entrar no jogo de um cafetão/contrabandista (Joaquin Phoenix) para não ser deportada e poder ganhar dinheiro para retirar a irmã da quarentena na Ellis Island, o porto de entrada dos EUA.

O filme foi recebido com certa indiferença. A sessão não lotou, e a coletiva de imprensa não atraiu atenção.

Não que James Gray se surpreenda. "O fracasso é o resultado mais provável de qualquer filme, mas há uma bolha de críticos americanos em Cannes que não vai com minha cara", diz à Folha o cineasta, que também escreveu o roteiro de "Blood Ties", de Guillaume Canet, exibido fora da competição.

"Pelo menos eu posso dizer com orgulho que nunca fiz nenhum trabalho pensando em dinheiro. Posso errar ou acertar, mas nunca me vendi", afirma.

REAPARIÇÃO

O iraniano "Dast-Neveshtehaa Nemisoosand" (manuscritos não queimam) teve mais sucesso em virar o alvo dos holofotes em Cannes.

É dirigido por Mohammad Rasoulof, que não era visto em público desde 2010, quando foi preso acusado de propaganda contra o regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad --ele deveria ficar seis anos preso, mas a pena foi reduzida para um ano.

Proibido de filmar pelos próximos 20 anos, Rasoulof não se intimidou e foi além das metáforas que os diretores iranianos tanto adoram.

Fez escondido um thriller passado não apenas em Teerã, mas no interior do país, e escolheu não exibir nenhum crédito (apenas seu nome) para a equipe e elenco não sofrerem represálias.

O longa iraniano fala diretamente sobre a censura e a corrupção no governo iraniano: dois assassinos precisam se livrar das evidências geradas pelas memórias não publicadas de um escritor que, cansado de ser censurado, quer sair do país e lançar o livro expondo assassinatos promovidos por oficiais iranianos.

"Os críticos iranianos que estão aqui podem dizer que meu filme é ruim, porque precisam voltar para casa", alfinetou Rasoulof.

"Mas espero que vocês gostem, não apenas pelo tema, mas por suas qualidades como obra de cinema."


Endereço da página:

Links no texto: