Folha de S. Paulo


Crítica: Com cenas de brutalidade, 'Heli' ganha posto de 'film choc' de Cannes

Único representante latino-americano na disputa pela Palma de Ouro neste ano, "Heli", de Amat Escalante, parece ter sido feito exclusivamente para chocar as plateias de festivais com sua mistura de denúncia, estilização visual, cenas de tortura explícita e toques de cinismo.

A aparição, nos créditos iniciais, do nome de Carlos Reygadas --ganhador do prêmio de melhor direção em 2012, aqui assinando como produtor--, e o fato de se tratar de uma coprodução entre México, França, Alemanha e Holanda, também são dados reveladores de como um título, entre mil, pode se destacar diante dos olhares de uma comissão de seleção.

"Heli" se passa em uma cidade do México dominada pelo tráfico de drogas. O personagem que dá título ao filme é um jovem operário que mora com seu pai, sua irmã adolescente, sua mulher e o filho bebê em uma pequena casa, isolada. O cenário é desértico; o vento, constante.

Divulgação
Cena do filme mexicano "Heli", exibido em Cannes
Cena do filme mexicano "Heli", exibido em Cannes

A paixão da irmã de Heli por um cadete que rouba uma carga de cocaína de policiais corruptos faz com que a violência irrompa na vida da família de forma abrupta. As cenas de tortura, de uma brutalidade atroz, garantiram ao filme o posto de "film choc" de Cannes 2013.

Amat Escalante oferece um retrato do México que obedece exatamente àquilo que se espera de um olhar exótico, estrangeiro e superficial.

Às vezes, o diretor parece estar debochando dessa visão com cinismo, mas esse aparente distanciamento não chega a se configurar como uma crítica ao exotismo --é, antes, uma chave de defesa do cineasta, um olhar supostamente distanciado, mas que em nenhum momento se configura como uma crítica real.

O que é uma pena, porque a história tem um ponto de partida interessante e o personagem central possui uma riqueza interior que nunca chega a ser desenvolvida.

HELI
AVALIAÇÃO ruim


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