Folha de S. Paulo


Rap volta à Virada Cultural e atrai milhares de jovens com shows pacíficos em dois palcos

Seis anos após ter ser seu show marcado por uma confusão entre Polícia Militar e público, os Racionais MC's fizeram ontem, na praça Júlio Prestes, o show mais aguardado desta Virada Cultural.

A apresentação teve público de cerca de 100 mil pessoas, segundo a Secretaria Municipal de Cultura.

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Se a contestação do papel da "polícia" e do "sistema" aparecem fortemente nas letras do grupo de rap, o mesmo não aconteceu em discurso surpreendente do líder dos Racionais, Mano Brown.

Diferente do ocorrido em 2007, quando a Polícia Militar declarou que os Racionais estimularam o confronto entre PM e público, a fala e a apresentação de Brown tiveram tom apaziguador.

Com crianças no palco, o líder do grupo de rap creditou a violência ocorrida no centro da cidade ao público presente no evento.

"Dez manos roubaram o [tênis] Mizuno de um moleque. Custa R$ 900. Quem aqui ganha isso?", disse o rapper.

Ele ainda pediu que a volta para casa fosse pacífica. "Olha que multidão, olha que exército. Não pode faltar ninguém na volta. A falta de um é a falta de milhões."

Há seis anos, a confusão durante o show dos Racionais teve início após algumas pessoas subirem em uma banca de jornal. Desta vez, na tentativa de evitar que algo parecido ocorresse novamente, Mano Brown foi precavido.

Ao observar que mais de 50 pessoas assistiam à apresentação de seu grupo em cima da marquise de um estabelecimento, Brown pediu que elas descessem do local.

"Esse barato vai cair, é de plástico. Já vi inventarem um monte de coisa, mas ainda não vi inventarem algo pra negão voar", disse Brown, de forma bem humorada.

Em termos de segurança, o show teve policiamento maior do que o show de Criolo, que aconteceu antes no mesmo palco. A dispersão do público após a apresentação foi rápida e sem tumultos.

A REDENÇÃO DO RAP

Famoso por atrasar seus shows em horas, o grupo de rap adiantou a apresentação da Virada, prevista para as 15h, em 30 minutos.

Pelo Twitter, a produção dos Racionais informou que a antecipação aconteceu para que Brown, santista fanático, pudesse ver a final do campeonato paulista entre Santos e Corinthians.

Quem chegou antes ao local presenciou na íntegra a melhor apresentação desta edição do evento.

Com repertório eficiente, os Racionais mesclaram músicas recentes, como "Mil Faces de Um Homem Leal", homenagem a Carlos Marighella, com outras mais conhecidas, como "Diário de Um Detento" e "Negro Drama".

Desde a confusão de 2007, o rap vinha sendo deixado de lado na Virada. Este ano, o gênero ganhou espaço não apenas no palco principal, com Racionais e Criolo, mas teve também um local dedicado ao hip-hop, na avenida Rio Branco.

Por lá, além de nomes como Sombra, KL Jay, Edi Rock e Inquérito, o destaque foi Emicida, na noite de anteontem. Com show lotado, o rapper comemorou o retorno do gênero à Virada. "Thaíde, Racionais, Criolo, isso é um sonho. Façam barulho para o rap nacional", disse ele, antes de cantar "Dedo na Ferida".

O palco de rap também teve pelo menos um arrastão presenciado pela reportagem da Folha.


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