Folha de S. Paulo


Apesar das atrações, primeira Virada Cultural da gestão Haddad é marcada por violência

Mais concentrada no centro de São Paulo do que em anos anteriores, a Virada Cultural encerrada ontem, a primeira sob gestão do prefeito petista Fernando Haddad, foi também uma das mais violentas nos nove anos do evento.

Uma onda de arrastões e assaltos ofuscou uma programação mais abrangente, que trouxe o rap de volta à festa, abriu espaços para o funk e o forró, reuniu intervenções artísticas de peso e sanou alguns problemas de infraestrutura.

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Apesar do orçamento recorde, de R$ 10 milhões para reforços na infraestrutura e na segurança, e do contingente de 4.800 agentes de segurança, o maior nos últimos cinco anos, um jovem de 19 anos foi baleado ao reagir a um assalto na avenida Rio Branco e morreu no hospital.

Houve ainda mais uma morte, por uma suposta por overdose. Outras três pessoas foram baleadas e seis, esfaqueadas. No total, 28 pessoas foram detidas pela polícia e outros nove adolescentes, apreendidos. Até a conclusão desta edição, a polícia investigava outras 32 ocorrências.

A reportagem da Folha flagrou pelo menos 11 arrastões pelo centro. Houve ataques de grupos de até 50 bandidos nas avenidas Ipiranga, São João, Rio Branco e Duque de Caxias, na praça da República, e no viaduto Jaceguai.

Em entrevista coletiva, o prefeito Fernando Haddad admitiu que houve um "aumento do número de ocorrências". Mas o coronel Reynaldo Simões Rossi, à frente do policiamento durante a Virada, relativizou a afirmação, dizendo que prefere se pronunciar após a compilação de todos os dados da festa.

Juca Ferreira, secretário municipal da Cultura, não quis comentar os episódios de violência, dizendo apenas que "foram casos isolados".

Embora Simões Rossi, da Polícia Militar, evite classificar como arrastão a ação de bandidos na Virada Cultural, grupos de assaltantes agrediam frequentadores da festa, roubando bonés, tênis, joias e celulares gritando "é o bonde, é bonde do arrasta".

Vítimas da violência na festa reclamaram da desatenção da polícia. Um jovem atingido por um chute no rosto chegou a ficar dez minutos desacordado no chão da praça da República, mas policiais disseram a amigos da vítima que havia ocorrências mais graves para atender.

Aureliano Santana, 49, pai de Elias Martins Morais Neto, o rapaz morto com um tiro na cabeça, também cobrou providências da polícia. "Como pode um menino vir para uma festa e ser baleado? Não tinha ninguém para revistar e ver quem estava armado?"

Drogas eram vendidas a menos de uma quadra de uma delegacia na rua Aurora e policiais permaneciam enfileirados, sem responder a delitos, na Rio Branco.

Na rua Cásper Líbero, no entanto, a PM conseguiu prender seis suspeitos de envolvimento em um arrastão.

Mesmo o senador petista Eduardo Suplicy teve o telefone e sua carteira furtados durante a festa e subiu ao palco após o show de Daniela Mercury, pedindo que devolvessem seus pertences --ele, de fato, recuperou alguns de seus documentos.

Sob o olhar do prefeito, Mano Brown, líder dos Racionais MC's, reclamou da violência durante seu show.

"Estive ontem aqui. Sou da rua, vi muita covardia no centro. Todo mundo fala da polícia, do sistema, mas eu vi vários malucos roubando. Isso está longe de ser evolução. O rap precisa de gente de caráter, não de malandrão."


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