Folha de S. Paulo


De arrastão, palco Cabaré da Virada só teve as meias

No palco Cabaré, em frente ao Copan, os únicos arrastões no domingo foram as meias-arrastão, artefatos usados por alguns transformistas que fizeram espetáculos burlescos (leia-se "strips") entre as apresentações musicais.

Os shows desta seção da Virada Cultural não fugiram muito dos seus scritps. Como terminaria o último show da noite, o de Rita Cadillac, se não com a ex-chacrete rebolando ao som de seu hit "É Bom Para o Moral"?

De lingerie com purpurinas e uma túnica-arrastão, a veterana dançarina, cantora e ocasional atriz pornô não teve tempo, diga-se, para fazer todas as suas evoluções.

Com o atraso de meia-hora para o início do show de Marisa Orth, no começo da tarde, e outros pequenos atrasos ao longo da programação, Cadillac ganhou apenas 15 minutos. Fez render.

Dublou sua canção com o fascinante título "É Que Nessa Encarnação Eu Nasci Manga", selecionou um rapaz para dar um beijo em seu derriére (parte tradicional de seus espetáculos), dublou "Banho de Espuma", da sua xará Lee e encerrou com o seu maior clássico, o da moral.

Sua colega de Programa do Chacrinha, a ex-jurada Elke Maravilha não conseguiu a mesma coesão de Cadillac. A própria jurada Elke dificilmente teria aprovado sua própria performance, mesmo num show de calouros.

Em 40 minutos de palco, Maravilha começou e terminou executando, é esse o verbo, o forró "Pagode Russo", de Luiz Gonzaga, de quem também interpretou um "Assum Preto" arrastado e melancolicamente fora de tom.

Entremeando as canções, contou histórias igualmente desafinadas, como a de um fã que lhe revelou que ele e seus cinco irmãos se masturbavam enquanto a assistiam no Chacrinha. Anunciou ainda que concorrerá nas próximas eleições pelo Partido Periquiteira e que, se eleita, trocará a moeda: "de Reais para beijos".

Maravilha mesmo já tinha sido. Pouco antes do espetáculo de Elke, o mesmo palco Copan havia recebido uma apresentação inspirada de Cida Moreyra.

A experiente cantora e pianista não dançou nem rebolou, como todas as outras atrações do palco na tarde de domingo, incluindo aí um garoto besuntado, de sunga, que fez evoluções de pole dancing num dos intervalos.

Cida Moreyra sentou-se em frente ao teclado, tocou e cantou, com uma potência que fazia-se escutar na Praça da República, a algumas quadras dali.

Não faltou a homenagem a Paulo Vanzolini, morto há menos de um mês, com a interpretação do hino paulistano "Ronda", nem sua acertada versão rascante e sincopada de "Back to Black", de Amy Winehouse, a mais aplaudida de sua apresentação.

Mostrou ainda sua corajosa regravação de "Vapor Barato", de Jards Macalé e Waly Salomão (patrimônio nacional na voz de Gal Costa, na versão de 1971), dois temas de Ângela Ro Ro e uma bela "Sympathy for the Devil", dos Stones. Só faltaram suas conhecidas releituras de Kurt Weill e Bertolt Brecht, que tão bem caberiam num palco chamado Cabaré.

Marisa Orth, a primeira atração da tarde, se encarregou deste aspecto da festa. Vestida à Jessica Rabbit, brincou com a barra de pole dancing, arrancou aplausos exibindo as coxas, contou piadas ("Neste show vamos falar de relação; eu relo em você, você rela em mim..."); ainda cantou.

Divertiu um público que entupia a avenida Ipiranga com canções da sua antiga banda Luni (como a engraçada "The Best"), tocou uma correta "Ciúme de Você" (Roberto Carlos) e o belo dramalhão "Lama", sucesso na voz de Angela Maria. Quando o microfone deu choques, Orth matou com talento: "Esta Virada é mesmo eletrizante". Entre altos e baixos, o domingo no palco Cabaré teve seu cabaré.


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