Folha de S. Paulo


Crítica: Ângela Ro Ro, Walter Franco e Wanderléa: três estilos, três belos shows

Acompanhando-se ao piano, com sua característica voz macia e grave, Ângela Ro Ro subiu ao palco do Theatro Municipal de São Paulo às 3h, na madrugada deste domingo (19).

Mantendo o estilo despojado de sempre, Ro Ro levou um "papo reto" com a plateia que a recebeu calorosamente. O álbum apresentado pela cantora foi o seu primeiro trabalho, que incluía grandes sucessos como "Gota de Sangue", "Cheirando a Amor" -- da qual se orgulha de constar na trilha do filme "Cazuza - O Tempo Não Pára" -- e a "que vocês mais conhecem e é sucesso desde 1979", afirma a Ro Ro: "Amor Meu Grande Amor".

Nesta última, um grande coro se forma no Theatro Municipal de São Paulo. Para o bis, Ângela reservou "A Mim e a Ninguém Mais", também do álbum "Ângela Ro Ro" (1979). Bons músicos, canções melódicas e intensas, uma cantora comunicativa de cara e alma lavada, fizeram do show de Ângela Ro Ro um verdadeiro "biscoito fino" na Virada Cultural de São Paulo.

Na sequência, um público diferenciado surgiu para receber o cantor e compositor Walter Franco. Muito ritmo, muita ginga, muito eco ("eu sinto que nasci numa câmara de eco", afirmou Franco) caracterizam o estilo do artista por muitos considerado um "compositor maldito" --no melhor dos sentidos.

"Feito Gente" foi a canção que abriu o show em que apresentou o seu álbum "Revolver" (1975). "O verbo, não o substantivo", alertou o cantor, "eu vou passar a minha vida pregando a não violência...não sei até quando!", concluiu Franco com estilo e muita criatividade musical.

Mesclando melodias suaves como "Pensamento" e "Cena Maravilhosa" --esta última composta em cima de um poema escrito por seu pai-- com canções "heavy" como "Arte e Manha", na qual o baterista Gui Vitali deu um show à parte, a apresentação de Walter Franco foi muito feliz e agradou bastante o seu séquito de fãs. Mesmo alguns muito jovens, com quem conversei e que nem conheciam o seu trabalho, gostaram muito do que ouviram.

Às 9h em ponto, as cortinas do Theatro Municipal de São Paulo se abriram novamente para receber a primeira pop star brasileira: Wanderléa.

Esbanjando energia e alto astral, com o carisma que a tornou a eterna "Rainha da Jovem Guarda", a cantora abre o seu show cantando a ritmada "Vida Maneira", do seu álbum "Wanderléa Maravilhosa" (1972).

"Esse disco traz chorinho, pop e até um pouco de carnaval", explicou a cantora, " e não foi muito compreendido na época". Esse trabalho marcava nitidamente a sua transição de ícone máximo da Jovem Guarda para um estilo mais arrojado, mas a cobrança da sua legião de fãs para manter-se na carinhosa condição de "Ternurinha" foi sempre muito grande.

Com muito "swing"e ousadia, neste álbum Wanderléa transita por Gilberto Gil ("Back in Bahia"), Jorge Mautner ("Quero Ser Locomotiva") até Paulo Barbosa ("Casaquinho de Tricô") e Assis Valente ("Uva de Caminhão") --estas últimas no melhor estilo Carmen Miranda.

Para não deixar de carimbar o seu jeito "Ternurinha" de ser, Wanderléa canta a deliciosa balada romântica de Rossini Pinto, "Mata-me Depressa", também do mesmo álbum. Para finalizar, a cantora foge do repertório do LP de 1972 e canta um sucesso carnavalesco que gravou ainda nos anos setenta: "Chuva, Suor e Cerveja" de Caetano Veloso.

Com a plateia do Theatro Municipal de São Paulo inteira em pé, acompanhando-a com palmas e avançando para a beirada do palco para chegar mais perto da estrela, o show de Wanderléa na Virada Cultural de 2013 só fez jus ao título do álbum. Como já dissera o próprio produtor musical do disco e do show original da cantora Nelson Motta, Wanderléa esteve ma-ra-vi-lho-sa!


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