Folha de S. Paulo


Opinião: Virada representa castigo para moradores do centro

Moro em um edifício de nove andares no centro de São Paulo, em uma via que fica entre a avenida Ipiranga e o largo do Paissandu chamada rua do Botícário.

Ela é pequena, estreita e pouco movimentada. Nos dias de Virada Cultural, no entanto, costuma ser bastante barulhenta por causa dos palcos montados nos arredores.

Por essa razão, no ano passado decidi dormir fora de casa durante a Virada. Este ano, preferi comprar tampões de ouvido e não sofri tanto com o barulho como nos anos anteriores. Notei, no entanto, que muitos vizinhos de apartamento foram viajar ou passaram o fim de semana na casa de algum parente. O prédio ficou quase vazio.

Durante a noite, nossa rua foi usada como banheiro público a céu aberto. Também notei que ela virou ponto de uso de drogas. Para completar, quando amanheceu, constatei que os portões dos prédios vizinhos estavam todos pichados.

O que a Prefeitura vende é arte e cultura, e a Virada proporciona essa combinação. Mas muita gente sai de casa mais interessada em vinho barato e em energético com vodca.

O prejuízo é maior do que o preço da lata de tinta para apagar o vandalismo. A falta de segurança e o barulho fazem com que alguém como eu considere um palco tocando 24h em frente de casa mais como um castigo do que como uma bênção.


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