Folha de S. Paulo


'Virada Cultural virou virada criminal', diz policial

"A Virada Cultural virou virada criminal", disse um dos policiais civis do 3º DP, localizado na Santa Efigênia, no centro de São Paulo.

Ao menos 45 pessoas esperavam atendimento na delegacia nesta tarde, algumas estavam lá desde a noite anterior. Já não havia bancos para todo mundo sentar. Vencidas pelo cansaço, muitas se acomodavam no chão gelado ou nas muretas do prédio.

Violência durante a Virada provoca crise entre PM e Prefeitura de São Paulo
Dimenstein: Fui uma vítima da Virada
Dois homens morrem durante a Virada Cultural em São Paulo

Vítimas de assalto, brigas e furtos, além de suspeitos de crimes, esperavam pelo fechamento de boletins de ocorrência. Policiais e investigadores entravam e saiam da delegacia agitados, carregando documentos e fotos de possíveis suspeitos.

"É tanta ocorrência que o nosso sistema está com superlotação", disse um dos policiais que não quis se identificar.

Um grupo de quatro jovens --17, 20, 21 e 22 anos-- estava algemado no chão da delegacia desde às 4h. Eles são suspeitos de participar de um dos três arrastões registrados no 3ª DP durante a Virada Cultural.

Eles disseram à Folha que encontraram uma arma de brinquedo na praça da República e passaram a brincar com ela. No momento, apareceu um grupo de gays que acusaram os jovens de assédio. Uma briga começou.

Uma equipe da Polícia Militar conseguiu apaziguar a discussão e apreendeu a arma de brinquedo. Não foi localizado nenhum produto roubado com os jovens. O grupo de gays não quis ir à delegacia para prestar queixa.

Um outro grupo de cinco amigos ouvidos pela Folha contou que se envolveu em uma briga com outros três jovens, após um deles mexer com uma garota. Um dos três homens, que é mexicano, teve o nariz quebrado e está internado em um hospital local.

MORTE

O pai do jovem Elias Martins Morais Neto, 19, que morreu neste domingo após levar um tiro durante a Virada Cultural, reclamou da falta de segurança no evento. Encostado em um carro preto, ele ainda tentava entender o que tinha acontecido com o filho.

"Como pode um menino vir para uma festa desse porte e ser baleado? Não tinha ninguém para revistar as pessoas e ver quem estava armado?", disse Aurelino Santana, 49, enquanto aguardava a polícia finalizar o boletim de ocorrência.

Santana disse que estava em um culto religioso quando ficou sabendo da morte do filho, que foi baleado na cabeça na avenida Rio Branco, região central.

O jovem, que trabalhava em uma padaria em Interlagos (zona sul), tinha ido à Virada com um primo. A dupla foi abordada por outros dois homens na rua Santa Efigênia, segundo conta o primo --que não quis se identificar.

Elias entregou o celular e, depois, correu atrás dos criminosos. Perseguidos, os homens passaram pela rua Aurora --via onde fica o 3º DP-- e entraram na avenida Rio Branco. Um dos criminosos sacou uma arma e atirou na cabeça de Elias.

O jovem foi socorrido e levado ao pronto-socorro da Santa Casa, mas não resistiu e morreu logo depois.

"O Elias achou que a arma era de brinquedo e sai correndo atrás do cara. Eu tentei impedir, mas já era tarde", contou o primo, que tinha um corte no rosto por conta de uma briga com um dos assaltantes. Nenhum dos criminosos foi preso.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, 3.400 PMs participaram do policiamento do evento e 15 pessoas foram detidas.


Endereço da página:

Links no texto: